Ações ligam doadores a instituições e ampliam atos de solidariedade

Em Fortaleza, iniciativas recentes têm conectado, através da tecnologia, quem deseja realizar algum tipo de doação a projetos sociais carentes de auxílio. As ações fortalecem o exercício mais contínuo de solidariedade

Legenda: Fernando Dantas desenvolve ações de ajuda a projetos e reforça a necessidade engajamento sistemático dos doadores
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Poder finalmente usar um kimono nas aulas de jiu jítsu. Desejo que parece fácil de ser realizado, mas que para uma criança de 10 anos, moradora do bairro Alto Alegre II, em Maracanaú, atendida por projeto social, não é. Falta renda para acessar alguns sonhos. Uma das possibilidades no dia a dia é contar com a solidariedade de anônimos. Nesse movimento, o garoto ganhou a vestimenta e outras inúmeras pessoas necessitadas, moradoras do Ceará, atendidas por projetos sociais, têm tido acesso a recursos, sejam eles financeiros ou não.

Em Fortaleza, duas iniciativas recentes - uma delas a que viabilizou o ganho do kimono - têm conectado doadores a instituições sociais através da tecnologia. Essas ações, além da garantia de bens materiais e imateriais, também reforçam a necessidade do exercício contínuo da solidariedade e faz com que doadores mantenham apoios aos projetos de forma mais sistemática.

No Dia de Doar, celebrado hoje, 3 de dezembro, a coordenadora de mobilização de recursos da Fundação Terra Maracanaú, Leandra Coelho, enfatiza justamente o alívio de poder ajudar e ver as pessoas sendo ajudadas. Ela atua na Fundação que desenvolve ações educativas e sociais tanto com crianças, como jovens até os 18 anos, capitaneando recursos para garantir a execução e ampliação das atividades. Leandra relata que "são muitas as necessidades de quem é pobre. E o que fazemos é tentar atender aos mais necessitados com o melhor e não com o resto".

Na busca por assegurar recursos - sejam eles humanos ou financeiros - que deem vazão às demandas das pessoas atendidas pela instituição, os representantes da Fundação Terra conheceram a iniciativa do microempresário Fernando Dantas. Ele, junto à esposa Rosane Dantas, é fundador da Associação Anjo Rafael e desenvolveu um aplicativo chamado "Uma Ajuda Boa", para conectar justamente quem tem algo a doar com instituições que têm necessidade de receber auxílio.

Incentivo

Ações desse tipo ilustram a solidariedade cearense e, durante esse mês, irão ganhar visibilidade em reportagens do Sistema Verdes Mares (SVM), por meio da Campanha Seja Luz. Além de produções jornalísticas, o SVM também realizará atividades alusivas ao tema especial.

Fernando e Rosane, há 2 anos e 4 meses, perderam o filho Rafael de apenas 9 anos, em decorrência de um acidente na escola. A criança faleceu, após 13 dias na UTI. Antes disso, os pais descobriram uma redação escrita por Rafael na qual a criança relatou sonhos de ajudar as pessoas. Após a morte de Rafael, os pais decidiram iniciar ações de solidariedade. No começo, pensaram em construir uma creche, mas ao percorrerem algumas instituições em Fortaleza e na Região Metropolitana perceberam que as unidades existentes, de modo geral, precisavam de auxílio.

"Em todas as instituições que visitamos vimos dificuldades, sejam estruturais ou financeiras. Aí entendemos que nossa missão não era criar uma creche, mas ajudar as que já existiam", conta Fernando. A primeira ação foi mobilizar amigos para pagar as contas de energia e água de uma instituição em Iparana (Caucaia) cujo abastecimento de ambos os serviços estavam bloqueados devido a débitos existentes no local.

Mas, a necessidade de ampliar as mobilizações para além da "bolha de amigos" fez o casal lançar, no dia 10 de outubro de 2019, outra iniciativa, mais prática e aprimorada. Dessa vez, a aposta foi na tecnologia, mas com a mesma base: a solidariedade. O aplicativo "Uma Ajuda Boa" liga doadores e projetos que carecem de doação de recursos. Quem deseja doar, se cadastra no aplicativo, informa qual a doação deseja fazer e, via e-mail, o casal se encarrega de informar às instituições cadastradas. A organização que se interessar, mantém o contato com o doador e ambos efetivam o processo.

Tecnologia

"O aplicativo criou um caminho curto para as pessoas que queiram doar", ressalta Fernando. A percepção é reforçada pela coordenadora de mobilização de recursos da Fundação Terra Maracanaú, Leandra. "A Fundação é cadastrada no site e quando surge alguma doação a gente faz a opção. Já pegamos roupas. Recebemos muitas ajudas. O kimono foi doado por uma mãe que o filho cresceu e não usava mais. Agora, uma criança do nosso projeto vai poder usar", ressalta.

Nessa dinâmica de doação, 12 instituições já foram registradas. Roupas, móveis, alimentos e brinquedos são algumas das doações garantidas. Ao todo, informa Fernando, 1.200 pessoas já baixaram o aplicativo. "O maior gargalo é fazer com que a sociedade passe a enxergar a existência de quem precisa. Se você for procurar, a parcela que já participou de alguma atividade de doação ainda é pequena. Nosso objetivo é tornar mais perene essa doação", enfatiza.

Outra ação de estímulo ao voluntariado que segue uma perspectiva semelhante de conexão prática e simples entre doadores e instituições é o Fortaleza Solidária. Conforme a coordenadora do programa, Lilian Fontenele, a iniciativa em Fortaleza tem inspiração em um movimento em Recife. Na Capital cearense, a Prefeitura, conta ela, investiu recursos para a plataforma existir, mas não tem influência sobre os processos de doação.

No Fortaleza Solidária, a lógica é similar ao aplicativo Uma Ajuda Boa. Quem se interessa por doar, se cadastra na plataforma virtual e oferta a doação. E, ao mesmo tempo, as ONGs e projetos sociais que necessitam de ajuda se registram para receber. Ou o contrário. Os projetos ofertam "vagas de ajuda" explicitando do que eles precisam, e os doadores se candidatam para preencher essa vaga.

Resultados

A iniciativa foi lançada no dia 29 de abril de 2019. Nesses meses, informa Lilian, quase 250 instituições e cerca de 5 mil voluntários se cadastraram. As organizações, conta ela, pedem doações de diversos tipos como mantimentos, livros e mobiliário. Além disso, também há demanda por oferta de aulas a serem ministradas de forma voluntária. "Você pode ajudar de muitas formas. Pode doar coisas, mas também pode doar seu tempo. A ideia é ajudar da forma que for possível", enfatiza.

Lilian também avalia que esse tipo de iniciativa tem "mudado um pouco a cultura" de doar em épocas específicas. "Quem faz a doação ressignifica a própria vida. Muita gente acha que o benefício é só de quem recebe, mas quem faz um trabalho social também ganha muito", reforça.

Campanha

Durante o mês de dezembro, o Sistema Verdes Mares realiza a Campanha Seja Luz que, através de reportagens e atividades alusivas, busca ampliar a visibilidade das boas ações e da promoção da solidariedade no Ceará.