Criada em 1º de novembro de 1993 na cidade holandesa de Maastricht, a União Europeia reúne 27 estados membros independentes, com sede política em Bruxelas (Bélgica), com uma moeda única – o Euro – e com políticas que permitem, em seu território de 4,23 milhões de Km² e 450 milhões de habitantes, a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.
Essa união política e econômica acaba de perder um dos seus três grandes sócios, o Reino Unido, cujo governo conservador, chefiado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, celebrou, na véspera do Natal, um acordo para tornar realidade o Brexit, resultado de um plebiscito realizado em junho de 2016, no qual a população inglesa, por pequena margem de votos, optou por apartar-se do tratado que juntou os países do continente europeu.
O mercado mundial, por meio de suas bolsas de valores, saudou o evento com uma valorização planetária. A B3, do Brasil, subiu 1%. Mas, menos de 48 horas depois do anúncio do acordo, começou no Palácio de Westminster, sede do Parlamento britânico, e na mídia um debate sobre as consequências da saída do Reino Unido da UE. Há uma grave e crescente preocupação sobre o que acontecerá com a economia do País.
O Instituto de Estudos Fiscais inglês admite que o PIB poderá cair 2% e a inflação subir para 3% ao ano. Há um lado bom, o de que, livre das amarras fiscais da UE, o Governo do Reino Unido poderá celebrar acordos comerciais com parceiros que escolher. O Brasil poderá ser um deles, principalmente na agricultura, onde os ingleses são carentes de quase tudo.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, os principais governos europeus passaram a desenvolver esforços no sentido de construir, sob um clima de paz, um futuro comum para o continente devastado por dois bélicos conflitos. O bom senso dos governos europeus e, ainda, o incentivo dos Estados Unidos, seu importante e poderoso aliado, concluiu que era necessário, o mais rápido possível, cambiar a guerra pela paz.
Desse esforço, nasceu a União Europeia e uma nova, pacífica e promissora geopolítica. O Brexit é uma lesão à unidade da Europa, mas, até prova em contrário, restrita ao campo econômico. O acordo, anunciado às 14h44 do dia 24 deste mês, é apenas o início de uma nova fase, também difícil, das relações dos britânicos com seus antigos pares continentais. A dificuldade está na ainda indecisa posição dos trabalhistas diante dos termos do acordo. A popularidade do primeiro-ministro Boris Johnson caiu nas últimas semanas, e este é mais um complicador.
Há dúvidas, também, quanto aos pontos que causaram divergências entre o governo britânico e a liderança da UE, e um deles é o que diz respeito à presença de barcos pesqueiros europeus dentro das 200 milhas do mar territorial inglês. Na Escócia, a primeira-ministra Nicola Sturgeon reagiu severamente contra o acordo e outra vez ergueu sua voz a favor da independência escocesa, antecipando o grau de dificuldade que o Brexit enfrentará na própria comunidade britânica. O Brasil – cuja agricultura produz todos os alimentos – está na boa posição de aguardar o desdobrar dos acontecimentos para, usando o talento de sua diplomacia, tirar proveito desse imbróglio político. O mundo acompanha com interesse esse desdobramento.