Editorial: Torcida nos estádios

Dois meses após a volta do futebol na Região Metropolitana de Fortaleza, começam as primeiras discussões sobre a volta do público nos estádios. Um tema complexo para uma resolução imediata e que deve reunir vários atores do poder público e do meio esportivo nos próximos dias.

O principal argumento dos defensores da liberação é o prosseguimento do plano de retomada das atividades econômicas, que já contempla eventos que lidam com quantidade relativamente elevada de pessoas, como cinemas e teatros. Além disso, questiona-se também a movimentação registrada em espaços que teriam potencial de aglomeração superior ao das arenas esportivas.

O pleito é para que estádios, como exemplo o Castelão, comecem a receber torcedores durante os jogos, em volume reduzido, a partir do mês de outubro. Além do ganho futebolístico, pelo apoio recebido durante os jogos para obtenção de resultados em competições nacionais, como a Série A, os clubes vislumbram recuperação financeira do setor, frontalmente atingido pela paralisação do esporte entre março e julho e a impossibilidade da venda de ingressos.

Como na discussão que puxou o retorno do futebol, o fiel desta balança deverá ser o conhecimento científico que, em todas as hipóteses, terá de sobressair sobre aspectos esportivos, econômicos ou políticos. Também é interessante que seja observada a experiência ocorrida em outros países que passaram pela pandemia e que ensaiam os primeiros jogos com a presença de torcedores.

Na Alemanha, mesmo com a volta do crescimento do número de casos de Covid-19, a expectativa é pela liberação de 20% da capacidade dos estádios já na primeira rodada do Campeonato Alemão. A exceção é Munique, que proibiu as equipes locais, entra elas o Bayern (atual campeão europeu), de abrirem as arenas com público.

Na Inglaterra, o prazo estipulado para a volta da torcida no futebol seria em meados de outubro. No entanto, o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, adiou a decisão sobre o tema em face do aumento de casos que também ocorre na terra da Rainha. Não há mais previsão para a volta da torcida na Premier League, principal campeonato nacional do planeta.

Na Espanha, a posição mais dura das grandes ligas de futebol europeias se configura. Somente em janeiro ou fevereiro deverá ser liberada uma quantidade mínima de torcedores. A volta do futebol como antes da pandemia, projetam, acontecerá somente após o surgimento de uma vacina.

Ou seja, ainda há muita cautela nos países europeus, mesmo os que passaram pelo problema da Covid-19 bem antes do Brasil. 

A própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) prega cautela para a volta do público, contudo, por demanda dos clubes brasileiros, a entidade sinalizou que uma discussão sobre o tema é iminente.

O debate ainda está em fase embrionária, e não deve ser concluído em curto prazo. De certo, há de se ressaltar a necessidade de que predomine a razoabilidade, com suporte de orientações científico e baseado nos dados da pandemia, para que se encontre o momento ideal do retorno dos torcedores nas praças esportivas.


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