Editorial: Otimismo e desafios

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE) e o Conselho Regional de Economia divulgaram nesta semana pesquisa intitulada “Índice de Expectativas dos Especialistas em Economia”. O levantamento diz respeito aos meses de novembro e dezembro e, nas conclusões, avalia que o quadro econômico nacional inspira otimismo.

Deve-se notar que o público com o qual as informações são apuradas é qualificado: especialistas em economia, atuantes no Estado nos setores da indústria, agricultura, serviço público, mercado financeiro e comércio, além de empresários, consultores, executivos de finanças, professores universitários, pesquisadores, analistas e dirigentes de entidades.

É um bom marco, cabe registrar. Afinal, a almejada estabilização da vida social depende intensamente dos caminhos da economia e, por isso, atentar para os panoramas que se formam é essencial. Mesmo que esse seja tão somente um ângulo, é um indicador confiável de que há mudanças à vista.

A pesquisa indica que os analistas entrevistados revelaram otimismo em sete das nove variáveis investigadas: taxa de juros; evolução do Produto Interno Bruto (PIB); oferta de crédito; gastos públicos; taxa de inflação; cenário internacional e nível de emprego. Duas variáveis foram avaliadas com pessimismo – a taxa de câmbio e os salários reais.

Estudos do gênero não são exercícios de futurologia, tampouco sortilégios ou jogos de adivinhação. Distante disso, encontram-se na categoria de análises técnicas subordinadas a critérios e procedimentos científicos rigorosos. Em qualquer circunstância, podem ser considerados guias interessantes para a tomada de decisões, uma vez que abordam aspectos como a percepção presente e a percepção futura que os agentes da economia estabelecem por meio de suas experiências e vivências profissionais.
Mas o que se observa não está restrito ao que percebem os especialistas. Há, também, as movimentações do elemento prioritário de qualquer leitura que se possa fazer: o consumidor. A mesma Fecomércio apurou que 50,6% dos consumidores manifestam que irão às compras neste ano, o que gera potencial de gastos de R$ 320 milhões no varejo de Fortaleza.

Essa é uma interessante sinalização de que a estagnação que se verificou em anos passados pode estar a caminho de ser superada. Até porque a expectativa que se formou, correspondendo ao gasto individual de R$ 388,00, com média de 3,3 compras por consumidor, é 4% superior ao resultado de R$ 307,4 milhões calculado em 2018.
Compõe-se, desse modo, um horizonte reconhecidamente promissor, mas é necessário destacar outras frentes de igual relevância. O equilíbrio político, por exemplo, é de importância capital para que se confira substância e solidez a um novo quadro. Afinal, há desafios graves a serem vencidos – a começar pelo crônico desemprego que assola os brasileiros e por culturas administrativas não recomendáveis.

Tendo em conta que 2020 será ano eleitoral e que articulações já estão sendo definidas, o momento é propício para que se afinem os discursos político e econômico.