Editorial: Os homens e o fumo

O tabaco é uma droga lícita, consumida em quase todo o mundo, e com ameaças à saúde bem difundidas. O combate a ela, que passa também por um enfrentamento com o poder econômico de companhias multinacionais, tem sido o objetivo de políticas públicas em diversos países. Importante também são as ações voltadas a desconstruir a imagem positiva do hábito, já desgastada, mas que, no passado, esteve associada a valores tão diversos e sedutores quanto o mistério, a rebeldia e a elegância, alcançando faixas etárias e classes sociais diversas.

Um novo relatório sobre o tema, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), trouxe a boa notícia de que, o número de homens que consomem tabaco está em declínio. É a primeira vez que tal movimento é observado. Nas últimas duas décadas, a quantidade de fumantes em todo o mundo foi reduzida em aproximadamente 60 milhões de pessoas - passando de 1,397 bilhão em 2000 para 1,337 bilhão em 2018. Contudo, no mesmo período, o público masculino tabagista aumentou cerca de 40 milhões - de 1,050 bilhão, em 2000, para 1,093 bilhão, no ano passado. Atualmente, 82% dos fumantes em todo o planeta são homens.

Na avaliação do organismo internacional, o declínio do fumo entre o público masculino está associado à tendência global de se adotar leis mais rigorosas, fiscalizações eficientes e campanhas educativas e de conscientização sistemáticas. A brecada na curva ascendente é o início de um período de redução do consumo de cigarros entre homens. Para 2020, a OMS projeta o registro de 10 milhões a menos de fumantes, incluindo tanto homens com mulheres, comparados com os dados de 2018. Entre eles, a expectativa é de diminuir em mais de 1 milhão no próximo ano e, até 2025, retrair em 5 milhões os números.

A desproporção entre os fumantes, quando comparados os dados relativos ao gênero, confirma uma tendência, que preocupa as autoridades de Saúde, relativa aos comportamentos de risco adotados pelos homens. O impacto é documentado no número de mortes.

Na região das Américas, a expectativa de vida dos homens é 5,8 anos menor que a das mulheres, conforme estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Entre as principais causas, estão as doenças crônicas não transmissíveis - muitas, decorrentes ou agravadas pelo cigarro. Comportamento de riscos, associados a valores machistas, e a falta da cultura de autocuidado cobram alto deles no quesito saúde.

O cigarro não é onipresente como foi outrora, quando a publicidade do produto era liberada e agressiva. Hoje, não é mais tão comumente visto em produções do cinema e da TV. No entanto, seu alcance é demasiado abrangente - chega a 16% da população mundial. O Brasil está um pouco melhor - os fumantes, aqui, não chegam a 10%. Fortaleza está abaixo da média nacional, com 5,7% de população tabagista. O prejuízo nacional do hábito de fumar, se levados em conta apenas os gastos com saúde, é de mais de R$ 50 bilhões/ano.

Os trabalhos que já são feitos precisam ser intensificados. A população também pode contribuir, esclarecendo e conscientizando familiares e entes queridos, em especial, os mais jovens, que ainda não chegaram a esta droga.


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