Editorial: O impacto nos negócios

Avança País adentro a pandemia do coronavírus. Onde atingiu seu pico, caso da China e da Itália, o Covid-19 já matou alguns milhares de pessoas. Além do saldo social, há também o de natureza econômica. No Brasil, que não tem a estrutura sanitária nem os recursos financeiros de nações asiáticas e europeias castigadas pela disseminação da doença, preocupa igualmente a saúde das empresas, principalmente as de pequeno porte, que respondem por mais de 70% dos empregos formais. 

O turismo foi o primeiro a ser duramente castigado. Está no chão mais da metade da frota de aviões das companhias aéreas, proibidas de voar e ir para destinos europeus, norte-americanos, asiáticos e latino-americanos. A Latam e a Azul já cancelaram centenas de voos por um exclusivo e inédito motivo: a falta de passageiros para transportar. Consequência: as agências de viagem, a grande maioria das quais são pequenos negócios, veem seu funcionamento ser ameaçado.

Outra consequência: os grandes eventos – feiras, exposições, seminários, congressos, shows musicais e casamentos e até jogos de futebol – já foram cancelados, causando um prejuízo ainda não calculado às empresas que os organizam, também sob a ameaça de continuidade. É uma só a ordem das autoridades sanitárias – incluindo as do Ceará – à população: todos devem permanecer em casa. Sair dela só em casos de necessidade, como a de abastecer-se de alimentos nos supermercados ou de medicamentos nas farmácias.

Por sua vez, a indústria, que desde 2014 opera com até 40% de capacidade ociosa, deve sofrer por causa da falta de encomenda de alguns setores do comércio, que, com número reduzido de clientes, não tem como repor seus estoques. Assim, a cadeia produtiva dos diferentes setores da atividade econômica está a enfrentar um desafio que requer máxima atenção. Mesmo diante desse cenário, a classe empresarial terá que honrar com seus compromissos com o Fisco, fornecedores, colaboradores e clientes. Os trabalhadores, formais e informais, também anteveem dificuldades futuras que precisam, desde já, serem confrontadas, para que seus efeitos danosos sejam circunscritos. 

O Ministério da Economia anunciou medidas emergenciais. Na avaliação de muitos economistas, são insuficientes para o atendimento das necessidades das empresas, mesmo porque os recursos anunciados não são dinheiro novo, mas rubricas previamente carimbadas. Ao antecipar as duas parcelas do 13º provento dos aposentados e pensionistas do INSS, o Governo apenas trouxe para abril e maio o que seria pago em setembro e dezembro. 

Preocupado em não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal – que manda gastar só o que é arrecadado – nem em ampliar o déficit orçamentário fixado em R$ 124 bilhões, a equipe econômica do Governo Federal terá de buscar novas alternativas para impedir que a pandemia do novo coronavírus deixe uma conta pesada para a economia brasileira. 

Para isso, o Governo Federal terá de contar com o diálogo com o Congresso Nacional, superando tensões e alinhando forças para o bem comum. O que está em jogo é o interesse do País e não os dos que o governam no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.