Editorial: Exemplo para o mundo

Voltam-se hoje para os EUA os olhos do mundo, cujos eleitores estão indo às urnas para, pela 59ª vez, escolher, pelo voto livre e direto, o seu presidente. O evento de hoje, pelas circunstâncias que o emolduram, é diferente de todos os anteriores, e tanto isto é verdade que, de maneira sem precedentes, mais da metade dos que votaram na última eleição já o fizeram pelos correios ou presencialmente, em locais oficialmente designados para receber as cédulas. Pela primeira vez na história política dos norte-americanos, há um vivo, visível e manifesto interesse do eleitorado de se deslocar de casa para os pontos de votação. Essa manifestação é motivada pela radicalização a que chegou a disputa entre os seus dois grandes partidos – o Democrata e o Republicano, que, desde o primeiro pleito, em 1789, dividem o poder. 

Desde que se elegeu há quatro anos, o atual presidente Donald Trump adotou posições radicais que parecem ter assustado os seus patrícios. A ideia de construir um muro físico para marcar a fronteira dos EUA com o México, prometida antes mesmo de assumir a chefia da grande nação do Norte, foi a senha que deu partida à sua política de imigração que expulsou do País milhares de estrangeiros, não só latinos, mas também de outras etnias, principalmente as de confissão muçulmana. 

No plano interno, Trump – que sucedeu ao democrata Barack Obama, um intelectual com ascendência africana - apoiou o uso da força policial contra negros, reacendendo a chama do racismo, uma marca ainda não apagada da crônica cotidiana dos EUA. Com o discurso de “America First” (América primeiro), ele abriu uma divergência com a China, causando problemas a países aliados, como o Brasil, que tem no governo chinês seu principal parceiro comercial. 
No terreno militar, desafiou não só a China, mas a Coreia do Norte e seu arsenal atômico. Tudo isso e mais a revolta social motivada pela morte de cidadãos negros pela Polícia em várias cidades conduziram a sociedade norte-americana ao estágio atual, favorável à figura de Joe Biden, de 77 anos, o candidato do Partido Democrata, que, segundo as últimas pesquisas, pode tomar a Casa Branca de Donald Trump.

Os EUA emergirão da eleição de hoje – qualquer que seja o seu resultado – com novas perspectivas, principalmente na área social. Trump, se reeleito, terá pelo menos a metade da população a vigiar suas ações; se for Biden o escolhido, a virada será ampla, pois ele já se comprometeu a executar uma política de direitos humanos que combaterá o preconceito contra os negros e as minorias, e, no lado ambiental, castigará pessoas e países que degradam a natureza. 
É importante salientar que, nas relações diplomáticas e comerciais, há – como sempre houve – uma diferença entre a teoria dos discursos de campanha e a realidade do interesse geopolítico. 

No fim da noite desta terça-feira ou na madrugada de amanhã, saber-se-á o nome do eleito, ou reeleito, presidente dos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório. Os norte-americanos, finalmente, descobriram a virtude do voto e por isto acorrem às urnas para decidir, democraticamente, sobre o futuro próximo do seu país. É um bom exemplo para as nações totalitárias, onde um evento assim, simplesmente, é proibido.


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