Editorial: Economia do mar

Com 600 quilômetros de litoral, o Ceará e os cearenses mantiveram, até agora, uma relação ambígua com o mar. Apesar da intimidade com suas águas, lançou-se pouco à aventura de explorá-lo economicamente – pelo menos, se considerado o potencial de sua costa.

Contudo, o avanço da ciência e o surgimento de novas e revolucionárias tecnologias – e ainda o intercâmbio com centros mundiais de pesquisa que descobrem novas perspectivas para a exploração das riquezas marinhas – despertaram a liderança política e empresarial do Ceará para a necessidade de colocar-se de frente para o que está sendo chamado de “economia do mar”. Em um Estado com vocação para o crescimento, catalisado pela inovação, tanto potencial exige ser concretizado.

Há um mês, a Federação das Indústrias do Ceará participou de um evento português – promovido pela PricewaterhouseCoopers (PwC) –, que tratou do tema durante três dias. Quinze dias depois, uma missão portuguesa esteve aqui para tratar do mesmo assunto com a Fiec, que incluiu, entre suas Rotas Estratégicas para o Desenvolvimento do Ceará, exatamente a economia do mar. 

Coincidentemente, a Federação, em estreita parceria com o Governo do Estado, elaborou e lançou o Atlas Eólico do Ceará, um minucioso estudo sobre a potencialidade de geração de energia elétrica dentro do mar cearense. Atraídos por esse rico potencial, dois projetos de geração solar “off-shore” (dentro do mar) estão sendo anunciados para instalação no litoral de Camocim, no Oeste; e de Caucaia, no Norte da geografia estadual. Mas este é só um lado da ampla perspectiva que se abre para a exploração da “economia do mar” no Ceará. 

O Complexo do Pecém é outro dos vários lados da mesma boa questão. Um grupo espanhol – que já instalou e opera, em São Gonçalo do Amarante, uma unidade industrial de beneficiamento de atum – já celebrou Protocolo de Intenção com o Governo cearense para a instalação de mais duas plantas – uma de beneficiamento de sardinha e outra para a fabricação de latinhas para a conserva desse pescado. Ao mesmo tempo, um grupo norte-americano ainda não revelado por questões estratégicas, tem planos mais ousados para tirar proveito da “economia do mar” do Ceará. Além de uma indústria de beneficiamento de atum, os norte-americanos querem instalar um cais pesqueiro na região do Pecém. Os entendimentos com o grupo estão sendo feitos com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que mantém a confidencialidade. 

Espanhóis e norte-americanos já descobriram que um povo que pesca atum no alto-mar, usando barcos de madeira construídos artesanalmente na praia de São Gonçalo do Amarante, é especial que merece crescer. Os dois grupos pretendem utilizar barcos pesqueiros modernos, de aço, com todos os equipamentos tecnológicos de navegação por satélite e capazes de localizar e capturar os cardumes, armazenando-os em câmaras frigoríficos da própria embarcação. 

Como se observa, abre-se uma nova fronteira para os negócios da “economia do mar”, e o Ceará dá os primeiros passos para ir ao seu encontro. Aqui, há uma gente disposta ao trabalho, de fácil adaptação às mais intrincadas atividades e disposta a extrair do mar as suas melhores riquezas.