Editorial: Celebrar o livro

Estes são dias de festejar, com maior profusão, o livro, a leitura e a literatura. Tripé essencial para o desenvolvimento cultural, intelectual e socioemocional, são itens indispensáveis para também pensar o mundo e, a partir daí, transformá-lo. Não à toa, há uma data específica para celebrar o extenso legado e influência sedimentados pelo universo das letras: o Dia Nacional do Livro, comemorado nesta quinta-feira, integrando a Semana do Livro e da Biblioteca, celebrada anualmente no País.

A efeméride nasceu em virtude da fundação da Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro, cujo evento aconteceu em 29 de outubro de 1810. Os primeiros títulos do acervo foram disponibilizados pela Família Real Portuguesa. Ao todo, mais de 60 mil objetos foram trazidos ao Brasil à época. Entre eles, era possível encontrar, por exemplo, a primeira edição de “Os Lusíadas”, criação de Luís Vaz de Camões (1524-1580).

De lá para cá, diversas foram as movimentações em torno do objeto em solo brasileiro. Uma trajetória que perpassa desde um período de atribulações e incertezas nos primeiros séculos da Colônia portuguesa, até hoje, quando o mercado editorial do País está entre os mais respeitados do mundo e, pouco a pouco, eventos e iniciativas literárias ganham a ordem do dia, convocando novos olhares sobre a área.

A diversidade de narrativas presentes nas obras também passou por mudanças: cresceu. Negros (as), mulheres, indígenas, jovens das periferias das cidades e tantos outros perfis de escritores (as), outrora relegados às margens, estão passando a ocupar o centro das leituras, fomentando uma perspectiva mais abrangente acerca do que tratam os livros em solo tupiniquim.

Contudo, os bons ventos caminham lado a lado com incontáveis desafios. Falta ainda maior pluralidade nas publicações e condições favoráveis para que o mercado se torne cada vez mais democrático aos inúmeros apelos e vozes. Também é preciso comprometimento por parte das autoridades públicas em reverter o preocupante quadro que assola a nação: ainda se lê pouco por aqui e isso se reflete diretamente em aspectos da vida pessoal e interpessoal.

Dados da mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgados em setembro, apresentam uma diminuição de cerca de 4,6 milhões de leitores no País em quatro anos, algo alarmante. A partir da pandemia do novo coronavírus, mais dificuldades se avolumam no front. Várias livrarias fecharam as portas nos últimos meses e uma reforma tributária em tramitação pode fazer o livro ficar ainda mais caro, tornando o já dificultoso acesso aos exemplares em algo impensável para a maior parte da sociedade.
A situação das bibliotecas comunitárias igualmente amarga, bem como uma série de projetos e ações que, mediante um trato pouco cuidadoso de órgãos e instituições, encontram-se sem quaisquer perspectivas de acontecimento.

Portanto, celebrar o Dia Nacional do Livro é mais que tecer comentários elogiosos acerca do poder de obras e histórias da tradição brasileira. É também. Que, entre os adjetivos, sobressaia a consciência de que ler é, sobretudo, instrumento de transformação e progresso. É atividade essencial, logo necessitada de irrestrito incentivo.


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