Editorial: Caminhos da Cultura

É desafiador falar do setor cultural brasileiro sem mencionar as inúmeras problemáticas que o atravessam historicamente e daquelas que se assomaram em tempos recentes. Em meio à pandemia de Covid-19, então, avolumam-se obstáculos e, de modo irrefreável, questões historicamente fragilizadas ganham novos contornos. O áspero panorama impacta diretamente na condução das atividades da área, ao mesmo tempo que amarga perspectivas de bem valer-se do potencial dessa instância de trabalho e sobrevivência para superar adversidades.

Neste Dia Nacional da Cultura, celebrado hoje, é de fundamental importância observar de que maneira a sociedade está lidando com os abalos reiterados sofridos pelo ramo cultural. 

A data foi estabelecida por lei em 1970, marcando o aniversário de nascimento do jurista, político, escritor e diplomata Rui Barbosa (1849-1923). É oportuno esboçar sólidos horizontes para que as hostilidades sejam amortecidas e, mais ainda, ultrapassadas.

É fato que, desde o ano passado, já era possível verificar o aumento das dificuldades de manutenção dos projetos de todas as naturezas no setor. A realidade influenciou, inclusive, os maiores eventos, iniciativas que enfrentaram grandes pelejas para acontecer.

Agora, tudo se multiplicou. Com a chegada da pandemia – em meio à proibição das aglomerações e imposição do isolamento social – o teatro, a literatura, a música, em suma, as artes em geral foram saudadas como os pilares de escape essenciais do intrincado momento, servindo como combustível para melhor encarar os dias. Contudo, o que era para ser fartamente valorizado pelas autoridades públicas, dada a capacidade de mobilização e engajamento, foi perdendo apoio, minando projetos e ações.

Assim, milhares de profissionais passaram a viver na miséria, equipamentos fecharam as portas e os recursos direcionados para ações emergenciais na área demoraram a aparecer, deixando muitos caminhos em uma rua sem saída. Foi posta à prova a tenacidade do setor, sua capacidade de inventar forma que minimizassem os efeitos dessa crise sanitária e econômica que se abateu sobre todos.

Sob outro espectro, o meio virtual ganhou força, representando o único canal de comunicação com o público e um suporte de experimentação para inéditos mergulhos. Não à toa, a classe artística precisou se mobilizar para garantir direitos trabalhistas e um maior auxílio de instâncias maiores, visando preservar a ocupação e a vida dentro desse contexto. Como resultado, alguns governos estaduais e municipais, feito aconteceu no Ceará, responderam positivamente ao apelo, implementando ações variadas, seja de baixo impacto, seja de maior alcance.

Caminhando entre abismos, a passos curtos em um desfiladeiro, a cultura nacional, portanto, diante do exposto, merece receber todas as honras neste dia dedicado a ela, embora não apenas.

Processos de reconstrução e realização dos amplos campos abrangidos pelo setor devem ser encarados por gestores com prioridade e transparência sempre. Afinal, das maiores riquezas encontradas em solo brasileiro, está a capacidade de reinvenção e criatividade, dois dos incontáveis matizes intrínsecos ao ramo em questão.


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