A alfabetização é grande passo na estrada da inclusão social e da cidadania, o que leva à celebração do mais novo destaque nacional alcançado pelo Ceará, como o melhor estado dentre todos os brasileiros em alfabetização na rede pública do País - dados de 2019 divulgados nesta semana. É o sucesso de uma estratégia educacional já consolidada, a qual se tornou referencial. E talvez por pensar adiante, com um olhar no horizonte próximo dessas crianças, o Ceará precisará refletir sobre o contraste entre a educação pré-pandemia da realidade diferente que vivemos hoje, em que a lacuna do acesso remoto ainda é reflexo da desigualdade. De acordo com o levantamento divulgado nesta semana pelo Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em Língua Portuguesa, a proficiência média dos estudantes cearenses foi de 765,50. Já em Matemática, o Ceará alcançou uma média de 769,32. A pontuação média do Brasil, para ambas as matérias, era de 750. Um intento conquistado pela Secretaria da Educação do Estado, mas não sem toda a rede municipal, mostrando a importância da sintonia Estado-municípios. Não é uma realidade eventual, mas um sustentado sucesso. Então, chegou a pandemia. É impossível prever os números de daqui a um ano, mas antes que eles sejam consolidados será necessário refletir sobre a validade de qualquer novo levantamento sobre o desempenho em 2020 de crianças do 2º ano do ensino fundamental - objeto do mais recente levantamento do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgado nesta semana. Isto porque a pandemia, aliada à falta de universalização tecnológica, fez com que dezenas de milhares de crianças e adolescentes ficassem fora das aulas remotas, apesar dos esforços dos professores, bem como todo o corpo pedagógico escolar. Há, aí, um problema menos de infraestrutura e mais social, que a emergência sanitária tornou ainda mais evidente nesse ano, e que precisa ser sanado. Pelo menos por enquanto, o ensino remoto não alcança o nível do presencial. Somem-se outras questões causadas pela ausência, como a própria carência de socialização por parte das crianças, umas com as outras. Não é só a falta de conexão, são as várias conexões que deixaram de existir e que são fundamentais no aprendizado. No retorno presencial da rede pública, crianças, adolescentes e o corpo pedagógico terão o desafio de ressignificar a existência do coronavírus e como o cuidado para evitar que não se torne um medo paralisante. Contudo, quem universalizou o acesso às tecnologias e à internet têm uma chance educacional que, em termos presenciais, o Ceará foi o melhor a saber aproveitar no País. Nada menos que 92,7% das crianças encontram-se devidamente alfabetizadas ao concluírem esta etapa que é a alfabetização. Há 13 anos, esse percentual era 39,9%. A pandemia da Covid-19 poderá ser divisora de águas nos mais diversos aspectos, mas que não seja para interromper o ritmo de crescimento da educação no Ceará. Quando muito, que seja para se perceber a real necessidade da democratização do acesso às tecnologias, um feito que não se conquista sem a própria redução das desigualdades sociais.