Editorial: Ações conscientes

A implantação de regras mais rígidas no enfrentamento à Covid-19 no Ceará, estabelecidas desde o último dia 8 de maio e prorrogadas até o fim do mês, por meio de decreto governamental, expõe a necessidade cada vez maior do isolamento social no Estado. Estudos científicos na área da saúde são concretos e é sempre oportuno lembrar: ficar em casa salva vidas e é o único modo de encurtar o tão aguardado tempo de retorno às atividades cotidianas.

Enquanto isso, faz-se relevante considerar que, dentre as inúmeras mudanças de costumes ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus, a percepção de que é possível viver com menos ganha maiores contornos a cada dia de confinamento. Não se trata, por óbvio, de um elogio à redução compulsória do consumo, dado às graves dificuldades que se impuseram a muitos. Mas, dentre aqueles que têm conseguido manter o distanciamento social, é visível uma transformação dos costumes.

De forma intuitiva ou deliberada, as pessoas estão paulatinamente mais predispostas, em consequência da obrigatoriedade das restrições sociais, a contornar exageros consumistas, passando a adotar práticas do minimalismo. O termo surgiu como uma expressão artística no começo do século XX, na qual se utilizava poucos elementos visuais e enfatizava questionamentos ao campo social. Mas foi a partir de livros e documentários sobre o assunto, produzidos ao longo dos últimos anos, que a temática ganhou merecido destaque, chamando a atenção para o combate ao consumo do tipo inconsequente, com comprovados impactos negativos sobre a vida social e a natureza.

Essa, inclusive, deve ser uma das tendências para o mundo pós-pandemia: o reconhecimento obtuso da famosa ideia do "menos é mais", muito também em vista da crise econômica que já assola os países e perdurará, indefinidamente, depois desse cenário tão turbulento. Nessa dinâmica, consumir adequadamente não será somente ato de consciência, mas de necessidade. E já agora, quando adotada, tal atitude eleva o cuidado a outras demandas, outrora eclipsadas no contexto anterior à Covid-19.

O impacto ambiental, fruto da exploração irresponsável e sem controle de recursos naturais; a condição das pessoas em situação de rua, costumeiramente dependentes de iniciativas do poder público e de auxílios por parte de entidades e indivíduos engajados na causa; e até novas relações entre colaboradores de empresas, levando em conta que o home office tornou-se realidade massiva, são variáveis capazes de apontar os caminhos pelos quais a humanidade certamente atravessará daqui para a frente.

O escritor, poeta e ativista norte-americano Henry David Thoreau documentou, em livro, a experiência de viver isolado numa floresta, alavancando pertinentes reflexões sobre o modo de viver da maioria das pessoas, já no século XIX. Ele questionou: "A vida que os homens louvam e consideram bem-sucedida é apenas um tipo de vida. Por que havemos de exaltar só um tipo em detrimento das demais?".

A ideia se mostra ainda mais oportuna diante do futuro de incerteza, que convida ao estabelecimento de novas posturas, previdentes e conscientes. O desafio de superar a pandemia, importante que se reafirme, diz respeito a todos.