Dados contra a pandemia

Tendência identificada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), considerando os países da região, é de aumento do número de casos da Covid-19, enquanto muitos deles avançam em seu processo de retomada de atividades presenciais. O alerta dado pelo organismo, ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), não vai no sentido de associar, de forma inequívoca, os dois movimentos.

O discurso da Opas é propositivo - e perfeitamente aplicável, em sua lógica, ao Brasil. Trata-se de ressaltar a importância de os governos se valerem de recursos de inteligência, com o estabelecimento de bancos de dados e, a partir deles, da elaboração de ações mais precisas para conter o contágio da doença. Se coloca como desafio conhecer melhor a dinâmica da circulação do vírus, no nível individual ou comunitário. Desde a primeira hora do enfrentamento à pandemia, países asiáticos reconstituíram passos de cidadãos que testaram positivo para a Covid-19, de forma a identificar interações e possíveis novos contágios a partir delas.

Tal nível de refinamento está, ainda, fora do alcance da maioria dos governos da região, pois há uma notável carência de dados sobre sua população. A dificuldade inicial para se mapear a real necessidade do auxílio emergencial, no Brasil, para citar um caso recente, também no contexto da pandemia, exemplifica esta carência de o poder público ter, para seu uso, em benefício da população, um registro preciso de seus cidadãos.

Não à toa, a Opas valida algo que é da ordem do dia e que a sociedade conhece na prática. É o fato da importância inconteste das autoridades de saúde locais. No corpo a corpo com a população, são essas equipes que conhecem os problemas particulares de cada localidade e as necessidades específicas. Por essas vivências, as autoridades sanitárias, em âmbito local, têm um papel central na geração de dados, cabendo a elas também a análise desses levantamentos, de forma a adequar as medidas de saúde pública à realidade de cada área, de forma rápida e eficiente.

O alerta internacional é explicado pelo contexto. Ainda que no Brasil se observe uma tendência de queda dos números, em muitos estados, e uma estabilização em âmbito nacional, os casos de Covid-19 mais do que dobraram na região das Américas e do Caribe nas últimas semanas. O número passou de 5,3 milhões, no começo de julho, para mais de 12 milhões, nesta semana.

A atenção primária à saúde segue sendo apontada como a resposta central à pandemia, juntamente às medidas preventivas individuais. É no âmbito da saúde básica que se pode, mais facilmente, identificar casos suspeitos e encaminhá-los para confirmação; e agir, no sentido de conter a transmissão, promovendo o distanciamento social de pessoas infectadas, durante o período de transmissibilidade do vírus; além, claro, de fornecer atendimento oportuno à comunidade, de forma emergencial, e continuada, nos casos mais brandos da doença.

O ano avança sem que a crise sanitária tenha sido superada. Há lacunas importantes a ser preenchidas no que diz respeito ao que se sabe da doença. Tal constatação reforça a necessidade de se buscar conhecer mais daquilo que se enfrenta e de, efetivamente, se usar aquilo que se sabe em favor da sociedade.