Na democracia é a política que faz – ou deixa de fazer – os arranjos institucionais necessários à superação dos impasses. Neste momento, alguns dos líderes da política mobilizam-se para encontrar uma saída que, ao mesmo tempo, permita o reajuste das contas públicas e evite a sua insolvência. É muito grave o quadro da economia nacional. Neste momento, por causa do aumento dos gastos públicos, a relação dívida-PIB aproxima-se do patamar de 100%. Tendo de honrar o serviço da dívida – ou seja, tendo de pagar juros cada vez mais altos aos portadores dos títulos do Tesouro Nacional, cujos vencimentos têm prazos cada vez mais curtos –, o Governo Federal é obrigado a submeter-se às imposições dos investidores, que, na prática, são especuladores que tiram proveito da precariedade fiscal do País. Assim, foi uma boa surpresa o encontro que reuniu, recentemente, em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados e o ministro da Economia, que publicamente trocaram elogios e garantiram que o Executivo e o Legislativo estão a convergir para um só objetivo: encontrar, o mais rápido possível, a solução para os problemas administrativos e financeiros que açoitam o Governo e assustam a sociedade. Essa solução passa por um conjunto de reformas, entre as quais a administrativa e a tributária, ambas urgente e inadiáveis, pois serão elas que sinalizarão para o mercado e para as agências de risco o rumo do Governo. Por ora, esse rumo é incerto, e isto é péssima notícia para os investidores nacionais e estrangeiros, que têm o futuro próximo da economia brasileira no seu radar. Há uma questão que precisa de ser resolvida agora – a fiscal, relativa ao gasto público. Quer o Governo Federal ampliar seu programa social para além do Bolsa Família, criando o Renda Brasil, algo que aumentará as despesas. Há, porém, no meio do caminho a Lei do Teto do Gasto. Ultrapassá-lo ia de encontro às leis que regem responsabilidade fiscal, um imperativo para todo e qualquer gestor público. A alternativa seria reduzir despesas e diminuir investimentos, ou elevar a carga tributária. O Ministério da Economia sugere a criação de um tributo que incidiria sobre as operações financeiras feitas pelo modo digital. O Congresso é contra e o presidente da República, também. Solucionar esse impasse é o que buscam os integrantes da equipe econômica, que agora, como no Parlamento inglês, trabalha permanentemente junto ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados, subsidiando-os com dados e informações que aperfeiçoem as propostas de reforma que tramitam nas duas casas legislativas. A gravidade do quadro da economia brasileira parece haver despertado o lado responsável das lideranças do Parlamento, empenhadas agora na busca da convergência que viabilize, mesmo em uma temporada eleitoral como esta, a resolução da crise. Cresce a certeza de que, para começar, a própria estrutura do serviço público tem de ser urgentemente reformada. Mas para que haja essa reformulação, será necessária a adesão dos três poderes da República ao projeto de mudança, sem o que será impossível estancar as injustiças e os privilégios que, desde 1988, garantidos pela Constituição, castigam alguns e premiam outros.