A questão dos jovens

A pandemia da Covid-19 impôs à administração pública desafios inéditos e, com frequência, agravou problemas não inteiramente superados. Não é exagero afirmar que os prefeitos que conduzirão os municípios no quadriênio 2021-2024 terão que ir além das propostas convencionais, ainda que sólidas. Mesmo veteranos, que conquistaram a reeleição nas urnas, ou candidatos de grupos políticos que garantiram sua permanência no poder, não terão como fazer governos de continuidade. 

A inovação é um imperativo, pois nada voltará ao normal como que por mágica. Essa variável — a pandemia e suas consequências econômicas, sociais e comportamentais — se insinuará nos panoramas esboçados nos próximos anos. Mudará quadros, e para se chegar a resultados pretendidos não serão suficientes as fórmulas antigas, por mais bem-sucedidas que tenham se mostrado até aqui. A equação, afinal, mudou.

Uma área desafiadora é a das políticas públicas para a juventude. Não faz tanto tempo que as administrações públicas passaram a implementar políticas multidisciplinares para atenderem e investirem nos potenciais das populações mais jovens. Do discurso no palanque à ação concreta, a classe política, em regra, tardou a compreender as especificidades e demandas desse setor da sociedade. Três frentes nas quais as políticas para juventude costumam trabalhar se lançaram sobre cenários já vivenciados em 2020, mas ainda instáveis, complexos e desafiadores. A primeira diz respeito à educação.

O ensino não presencial foi uma solução necessária e oportuna. Contudo, ainda há muito o que percorrer não apenas em relação à estrutura das escolas para manter tal sistema, como de acesso por parte de alunos (e também dos professores) a equipamentos tecnológicos e a conexões de internet com qualidade; o estímulo nessas novas realidades, digital e híbrida, exige perícia e criatividade para manter os jovens engajados na atividade.

A questão do emprego — e, para muitos, do desemprego — envolve soluções não apenas para as limitações trazidas pela crise econômica quanto de um problema social, da precariedade de condições das famílias, que têm tirado alunos da sala de aula para buscar ocupações que ajudem no sustento das famílias. 

O motivo pode parecer nobre, mas a consequência tem um preço alto. O poder público não pode enveredar por explicações simplórias que tomam este movimento por uma simples escolha pessoal. Por fim, a tríade cultura-esporte-lazer enfrenta e continuará a enfrentar dificuldades de ser plenamente positiva, dadas às imperativas restrições que o momento exige. Fundamentais para o desenvolvimento de crianças e jovens, elas hoje não podem dar o máximo de seu potencial, demandando alternativas responsáveis cada vez mais eficientes.

Cada área exige dos futuros gestores e daqueles que continuarão no cargo o esforço e a coordenação de esforços. É indispensável que se tome o caminho do diálogo e da escuta, do reconhecimento de anseios e das estratégias de orientação. Nunca foi tão desafiante pavimentar o futuro da sociedade a partir do cuidado das novas gerações. Reconhecer o desafio é o primeiro passo para a sua superação.

 


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