Data de 1988 a criação da Fundação Cultural Palmares (FCP), primeira instituição pública para promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da contribuição do/as negro/as na formação brasileira. Hoje essa instituição passa por uma crise institucional provocada por quem a preside.
Para Clóvis Moura, a formação do Brasil se confunde e identifica-se com a história do povo negro, que contribuiu, pela via do trabalho, com o desenvolvimento do país, embora, em termo econômico, tenha sido excluído da riqueza produzida, mas se autopreservou ao transmitir cultura.
Diante dos fatos que acomete a FCP, vale rememorar sua missão e evidenciar a quem deve servir. O gestor inverte o significado político desse grupo étnico chamando o movimento negro de “escória maldita”, criticando o dia nacional da consciência negra, desqualificando personalidades da luta antirracista, imprimindo posturas autoritárias na mudança da sede da FCP, negando informações do órgão, acusando alguns servidores de compactuarem de conteúdos ideológicos contrários aos seus, motivo para desligamentos, o que lhe custou investigação pelo Ministério Público.
Em sua defesa, o presidente afirma ter preocupação apenas com o público que paga os impostos. Numa linguagem da escravatura, o mesmo encarna a figura do capitão do mato que persegue e pune os que contrariam o senhor.
Flerta com a defesa de uma escravidão suave e com o mito da democracia racial ao querer esconder os conflitos e as desigualdades.
O ocupante do cargo legitima práticas violentas com quem deveria servir, irradiando discurso de ódio, ampliando desprestígio e criminalizando condutas de negros, de quilombolas. Isso prova que o racismo no Brasil deu certo, pois retira a humanidade de todos, inclusive de parte daqueles que sofrem diretamente seus efeitos perversos.
A preocupação ampliada da FCP deve ser agilizar as certificações dos territórios e garantir as condições dignas de sobrevivência no contexto de pandemia da Covid-19 com segurança alimentar e vacinação aos remanescentes de quilombos.
Urge recuperar o propósito do órgão na efetivação de uma política cultural democrática, participativa e inclusiva do/as negro/as sem qualquer desvirtuamento da cidadania e justiça racial.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.