Vesti a camisa amarela e retomei a “Pátria em chuteiras”

Foto: Shutter

Voltei a vestir a amarelinha. Nos primeiros momentos foi muito estranho. Olhei no espelho e tomei um susto. Estava a cara do tiozão do zap, o típico espalhador de notícias falsas para aterrorizar as rodovias do país. Mirei mais uma vez e, destemido, encarei os olhares e a minha própria desconfiança. Coragem, meu filho, coragem.

A experiência se tornou mais radical ainda por estar em um ambiente com maioria absoluta de eleitores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Testemunhei amigos e amigas assombrados na Flip, a festa literária de Paraty. “Que marmota é essa, meu Deus?!”, indagou um descrente transeunte. “Diabé-isso?”, saltou de banda uma espirituosa conterrânea. E assim foi a recepção por ruas, bares e tendas da cidade histórica do litoral fluminense.

O que parecia um laboratório teatral, uma experiência dramática, aos poucos se tornou algo terapêutico e libertador. Xô, bolsominion. Estava resgatando a amarelinha. E em grande estilo: a camisa que vesti, com o número 4 às costas, foi um presente do Capita, Carlos Alberto Torres, o homem que levantou a taça Jules Rimet no México de 1970.

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Foi um delírio, um acontecimento e tanto essa retomada do manto sagrado em verde e amarelo. E em um momento tão especial, não poderia ter feito melhor escolha no guarda-roupas: o uniforme do capitão do tri, um grande cara, amigo que ganhei durante nossa convivência de trabalho no canal Sportv.

Que alívio, amigos, vestir a amarelinha e sair por aí. Com uma hora de uso eu já me sentia como nos velhos tempos, como se a camisa retomasse o significado democrático que possuía antes de ser adotada pela extrema-direita bolsonarista.

Ao primeiro gol de Richarlison, não havia mais dúvida, a indumentária mais famosa do futebol mundial estava de volta à sua função de origem – a de ser a nossa vestimenta bonita na alegria ou na tristeza de todas as Copas.

Ao segundo gol, e que obra-prima, a amarelinha já estava grudada ao esqueleto igualzinho foi no triunfo brasileiro de 2002. O Pombo nos devolveu a camisa como tatuagem, diria o cronista Nelson Rodrigues, o homem que criou a ideia da “Pátria em chuteiras”. Agora, com licença, vou ali escolher um novo modelito da seleção para o jogo contra a Suíça. A Copa do Mundo é nossa!



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