O dia em que os Beatles gravaram Luiz Gonzaga
Aproveito a maior festa do mundo, a época junina no Nordeste brasileiro, para relembrar dessa lenda rural e urbana
A boataria foi iniciada pelo apresentador Carlos Imperial, em 1968, no programa “Os Brotos no 13”, na TV Rio. O grupo de Liverpool havia escolhido exatamente “Asa Branca”, o hino nordestino, para fazer parte do mitológico “Álbum Branco”, disco daquela temporada.
A notícia falsa, no tempo em que ainda não chamávamos mentira de “fake news”, correu o Brasil inteiro. A boa intenção de Imperial era apenas promover a carreira de Gonzagão, naquele momento em que a mídia não estava dando muita bola ao artista.
O assunto foi parar nas páginas da primeira edição da revista “Veja”. Repare o que o Rei do Baião declarou, com uma ponta de ironia: “Os meninos ingleses têm muito sentimento e não avacalham a música. A toada deles parece bastante com as coisas do Nordeste”.
Em 1971, na entrevista histórica ao jornal “O Pasquim”, Luiz Gonzaga abriu o jogo sobre a lorota dos Beatles: “Aquilo foi uma brincadeira do Carlos Imperial. Ele tinha um programa no Canal 13 em que ele denunciava a semelhança do movimento jovem com a minha música, com o meu xote. Mas ninguém dava bola, ninguém ouvia. Um dia ele me convidou e fui lá pra ele tirar a prova dos nove”.
O apresentador teimava em dizer que algumas músicas do nordestino lembravam, aqui e acolá, os mesmos acordes da banda inglesa. O exemplo maior era a faixa “The Inner Light”, de George Harrison, que traz parentesco, logo no comecinho, com “Asa Branca” e “Mulher rendeira”.
Como ninguém dava ouvidos à sua teoria, Imperial resolveu chamar a atenção com o papo de que os britânicos haviam gravado o clássico composto em parceria do pernambucano Gonzaga com o cearense Humberto Teixeira.
Os Beatles não gravaram “Asa Branca”. Azar dos Beatles.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.