Manera Fru Fru Manera ou O Último Pau de Arara

Foto: Divulgação

O amigo cearense Paulo Mota, rapaz nascido e criado em Sucesso, distrito de Tamboril, me manda, noite dessas, o vídeo no WhatsApp. Na doideira da rotina, nem dei bola. Achei que era uma fuleragem qualquer de varejo, uma goga, um chiste freudiano, uma graça, uma bizarrice da política. Qual o quê, camaradas!

No que cutuco o som na caixa, surge o compositor Fausto Nilo, ao lado de Fagner, no centro do palco do Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, cantando aquela das antigas: “Velha estampa na parede, a toalha do jantar/ Na fumaça um anjo negro vai chegar/ Por trás da veneziana, a cigana me falar/ Que um inferno monstruoso vai entrar”.

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Assim você me lasca, compadre. “Astro vagabundo” é o nome da música, e não precisa ser cearense (mas é melhor que seja) para tirar da memória os primeiros porres, as primeiras lágrimas de amor, as dores pioneiras de uma criatura, a aguardente Kariri com K no Caldas (Barbalha), o gravador tocando a fita-cassete gravada, sob encomenda, nas Lojas Masa (Juazeiro do Norte), as viagens iniciais para o Recife a bordo da Princesa do Agreste ou de carona na Variant do generoso colega Cícero Mendonça.

O vídeo com Fausto Nilo (Quixeramobim) era do show “Fagner - 50 anos”, uma trajetória que começa em 1973 com o disco “Manera Fru Fru Manera ou O Último Pau de Arara”. Um álbum com estranhas canções para empenar gente grande: Nasci Pra Chorar (Born To Cry), Penas Do Tiê, Sina, Mucuripe, Pé De Sonhos, Cavalo Ferro, Serenou Na Madrugada...

O que o rapaz de Sucesso me mandou, certamente, não foi apenas um vídeo, foi um bilhete de reentrada no universo de Raimundo Fagner (Orós) e seus vinis incríveis, sempre de volta ao três-em-um aqui de minha casa em São Paulo. Para limpar a poeira do LP “Ave Noturna” foi um pulo. Muito além da faixa 3 (a dita “Astro vagabundo”), há outra pérola enigmática: “Retrato marrom”, do mesmo Fausto em parceria com Rodger Rogério. Uma lindeza deste e de outros mundos.

“Ai, meu coração sem natureza/ Vê se estanca essa tristeza que ilumina o escuro bar/ O nosso amor é um escuro bar/ Suspiro azul das bocas presas...”

Melhor parar por aqui, camarada Paulo Mota, a agulha enganchou, vou correr lá, a agulha furou o disco.



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