Depois do “boimate”, tema da coluna anterior, leitores pediram para tratar de outro fenômeno que fez sucesso na mídia brasileira: o chupa-cabra. Como esse tipo de ficção monstruosa se torna “realidade”? Gosto de estudar esse assunto. Em tempos de usinas de fake news, a pauta se torna mais interessante ainda. Vamos juntos.
Lembro até a última vez em que ouvi falar da assombração. Em um ataque a bodes, carneiros e borregos, lá no meu Cariri, em 2012. A pior carnificina, reza a lenda, aconteceu em Barbalha. Um artista fez até retrato falado da besta-fera. Os mais céticos asseguram até agora: foi apenas uma investida de cachorros ferozes.
Os principais ataques de chupa-cabras começaram a assombrar o Brasil no final de janeiro de 1997, quando o estranho predador — um bípede de um metro e meio de altura com garras e espinho nas costas — teria decepado as orelhas de um rebanho de ovelhas na chácara Recanto dos Três, em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba.
Parte dos animais atacados morreu dias depois, estraçalhados como zumbis de quatro patas. A notícia se espalhou à base do boca a boca, mas somente em junho daquele ano, ganhou as manchetes da “Tribuna do Paraná”, em uma reportagem que desconfiava da existência da criatura macabra e atribuía o episódio a cães famintos.
A versão do ataque da matilha não foi o suficiente para conter a lenda que já se espalhara como fogo em palha seca do milharal. Das terras paranaenses, a assombração passou a ser vista, em julho de 97, no município de Sumaré, a 120 km da capital, segundo registro da “Folha de S. Paulo”.
A fera é descrita de forma contraditória, por vezes parecendo-se com um extraterrestre (“cor verde, cabeça grande e baixa estatura”), em outras, aparece na forma de canguru.
Na tv, o tema era audiência garantida. Depois de frequentar programas de auditório, como o do apresentador Gugu Liberato (SBT), ainda em 1997, o chupa-cabra chegou ao Fantástico (Globo).
Antes de aparecer em terras brasileiras, o chupa-cabra fez estrago no México e em quase toda a América Latina. Também havia sido o “monstro da semana” do Arquivo X. O seriado era transmitido na Record e no canal FOX.
Mas, afinal, que diabé-isso?, como se pergunta em bom cearês. Apenas ataques sangrentos de animais silvestres, como as onças-pintadas, por exemplo. Na imaginação coletiva, provocada pela mídia, o bicho virou o diabo-a-quatro.
Para decifrar esse e outros fenômenos que vão além da imaginação brasileira, recomendo o livro “A Zona Crepuscular”, do escritor Rodolfo Stancki. Sensacionalismo de primeira.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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