A palavra do ano, no Dicionário Oxford e em bom nordestinês
Você fica ali à toa, meio abestalhado, rolando os feeds das redes sociais, pra cima e pra baixo, sem finalidade, apenas pelo vício, gastando dopamina feito um tabacudo (para usar uma genuína expressão do Recife) ou, segundo o repertório do baiano Raul Seixas, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar...
Você fica conversando “miolo de pote”, desmioladamente, com o dedo na barra de rolagem, abirobado, juízo frouxo, empanturrado de desnecessidades, no modo pangaré de estar no mundo, consumindo o nada a vácuo, moscando geral na existência.
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Existem várias maneiras de descrever o estado de abestalhamento total diante das redes. A turma do Dicionário Oxford elegeu o termo “Brain rot” (cérebro apodrecido ou atrofia cerebral) como a expressão do ano de 2024. Decisão certeira. Nada diz mais sobre o estado de coisas que atravessamos no momento.
Toca Raul, só o roqueiro baiano explica, com o seu “Ouro de Tolo”, desde os anos 1970:
“É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa 10% de sua cabeça animal”.
Você fica ali de bobeira, dormindo de touca diante da realidade, barra de rolagem pra cima e pra baixo, procrastina, prorroga o prazo, torra o cérebro, queima o arroz no fogo, e nada acontece. “Brain rot” é pouco, amigo, o mofo se espalha na massa cinzenta, o mofo deu.
Cérebro apodrecido, juízo de bode, cabeça de biroba, cerebelo sem futuro, miolo esfarelado... Seja no Dicionário Oxford ou no cearês legítimo, o zé-doidismo diante da barra de rolagem passou da conta. É quase caso de emergência na saúde pública. Vai ver se tô na esquina, te alui, criatura.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.