A feira do rolo e a muamba luxuosa do Rolex

Foto: Fabiane de Paula

Esse rolo todo das joias do ex-presidente Bolsonaro me levou inicialmente à velha “feira do troca” do Pirajá, em Juazeiro do Norte, onde frequentava com os amigos e vi os escambos mais improváveis do planeta. Meu pai, Demar das Cobras, sempre foi mestre nessa arte — saía de casa com uma bicicleta e voltava com um bode e uma saca de fava, por exemplo. Sem, no entanto, precisar mexer no alheio, óbvio.

As feiras de trocas e rolos são um clássico no interior do Nordeste. Os negócios são inimagináveis. Tenho um primo que começou a vida com um aro de bicicleta e fez uma pequena fortuna, depois de trocá-lo por um casal de bacurins. Ele tornou-se um grande criador de porcos.

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As histórias que começam no escampo são extraordinárias. Vale a esperteza e o tino para o comércio, mas desde que o camarada seja mesmo o dono da mercadoria no jogo. O feio e condenável no episódio do capitão e a turma de militares do Palácio do Planalto é que negociaram com bens públicos da Presidência da República. E não se tratava de sucata ou coisa peba. Era muamba milionária, tudo joia cravejada em ouro e diamante.

As investigações da Polícia Federal descobriram uma série de conversas na “feira” bolsonarista que revelam as transações ilegais. Repare como o tenente coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, entrega o rolo internacional nessa sua prosa com outro colega de serviço:

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”

Para concluir, um aviso: a feirinha de troca do Pirajá mudou de local faz um bom tempo. Agora funciona na praça na frente da Arena Romeirão, ali mesmo no Cariri. Haja rolo, mas sem o luxo dos rolexs e colares das mil e uma noites nas Arábias. De joia, o amigo vai encontrar, no máximo, umas belas peças de “ouro michelin”, o metal famoso que banha as preciosas mercadorias de Juazeiro do Norte. Vai na fé!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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