Objetos de desejos

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Desejar a vida de alguém não é uma coisa saudável.

Ah, seu tivesse a casa de fulano, a grana de sicrano, não teria problema nenhum pagar altos impostos por uma vida dessa.

Isso não é legal.

Por isso mesmo, quando ao vislumbrar certas conquistas materiais, digo brincando (brincando é que as verdades são ditas) que “esta é a vida que Deus pediu pra mim”, é porque sei a quem estou pedindo.

Sabe-se que certos seres humanos desejam, no íntimo, a vida que os ricaços levam, por entenderem que suas existências são eternamente espetaculares.

Só que não é bem assim. O Mundo está cheio de nababos, com problemas existenciais insuperáveis.

Mas, “deixa eu dizer pra tu”, a forma como pede licença para falar o filósofo Mossoró, exclusivo do Sistema Verdes Mares de Comunicação. Dois objetos de desejo me perseguiram na vida e se mostraram inalcançáveis, até os dias de hoje.

Primeiro objeto de desejo: ter o privilégio de não fazer nada, ser dono do meu tempo para ler, escrever no computador, com dois dedos e, aqui e ali, cometer um comentário generalista, sem obrigação de fazê-lo. Segundo objeto de desejo: ter uma casa na praia, cuja aproximação do mar me permitisse tocar a água com os meus pés. 

Quer dizer: o mar aos meus pés.

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Esse segundo desejo gerou um causo muito engraçado, pelo fato de sempre dizê-lo em voz alta, para todo mundo ouvir.

Certo dia, no tempo em que possuíamos uma casa no Icaraí, distante cerca de dois quilômetros da praia, depois de uma noite chuvosa, recebemos um telefonema do caseiro Barnabé: “Seu Wilton, tenho uma boa notícia pro senhor. Venha hoje por aqui, que o seu desejo de ter água aos seus pés numa casa de praia vai se realizar. Com a chuvarada de ontem, a casa está inundada, com água no meio da canela”.

Soltou uma gostosa gargalhada e me deixou com cara de cenário.

Como viram, dois desejos fora do meu alcance.