A nossa amizade foi cultivada e baseada nas resenhas (narrativas sobre tudo) que mantivemos ao longo do tempo.
Lula gostava da minha visão de mundo (sobretudo de algumas tiradas filosóficas) e fazia questão de exteriorizar isso.
De minha parte, ficava fascinado quando Lula resenhava sobre as suas experiências de vida, extraídas de um estrato social pobre na infância e adolescência.
O futebol era o conteúdo maior de nossas conversas, até mesmo porque o assunto dizia respeito as nossas ocupações profissionais.
Nossa afinidade era tal que, em duas oportunidades, Lula Pereira me “consultou” para tomar decisões no seu ingresso na Portuguesa de Desportos e Flamengo.
Mas, foram abordagens feitas com muito bom humor, sem aquela severidade por parte de quem dava passos importantes como profissional.
Tanto que, no caso do time paulista, a relutância era de ordem financeira (o dinheiro era bom) o que me levou a dizer pelo telefone: “Homem, aceite logo essa proposta antes que eles se arrependam”.
Já com relação ao Flamengo, estivemos papeando poucos dias antes de Lula ser chamado ao Rio para conversar com o presidente do time rubro-negro.
Me surpreendi com sua ligação (não me disse nada antes de viajar) dizendo que, o acerto não estava pegando em função de uma cláusula que o Flamengo não aceitava.
Como torcedor do rubro negro e, mais do que isso, consciente do grande salto profissional que o amigo dava, disse-lhe brincando: “Lula, para treinar um time como o Flamengo a gente tem até que pagar”.
Apesar da crise que atravessava o time de maior torcida do Brasil, sua passagem pelo rubro negro foi um dos pontos altos de sua trajetória como técnico.
Desde ontem nossas resenhas sofreram uma interrupção, já que, mesmo sem a fala (resultante do AVC) conseguíamos nos comunicar nas inúmeras visitas que o fiz.
Vá em paz, amigo.
Em outra dimensão, o seu lugar sempre esteve reservado entre as pessoas de bem.