O 'goleiro linha' e o gosto de infância

Legenda: Felipe Alves alerta que Fortaleza não pode tomar gols se quiser avançar
Foto: Foto: Thiago Gadelha / SVM

Quem no país do futebol, quando criança ou adolescente, não participou das peladas ou “rachas”, em campos de pequenos espaços, calçadas e até nas áreas interiores das residências?

Achamos que todo menino, excetuando-se os almofadinhas, jogou futebol nessas condições, sonhando no futuro, com o aplauso dos estádios.

O nosso entendimento do futebol como elemento de inclusão, nasceu das peladas em que as formações iniciais dos times iam se modificando, à medida em que chegavam os retardatários.

Ninguém ficava fora da brincadeira: era chegar e entrar. Nos espaços de cimento ou barro, o couro comia e, além de divertir, contava contava com a meninada mais brava, que não queria perder; o que mais tarde seria definido por Romário como “brincar a sério”.

As leis do jogo eram simples e permitiam, nas calçadas e áreas, se apoiar e fazer tabelas usando as paredes. Já nos campinhos, geralmente cercados de vegetação, a bola só era considerada fora de jogo quando chegava no mato. Daí, o bordão adotado pela boleirada: “joga pro mato que é jogo de campeonato”.

Nesses rachas, o goleiro usava as mãos e os pés para defender e podia “desgarrar” em busca do ataque, desde que não perdesse a bola e deixasse o gol vazio. Aí, era uma ação considerada imperdoável, passível de todo tipo de insultos e reprovações do resto do time.

Quem nos remete a esse tempo carregado de saudade e infância, é o goleiro Felipe Alves, do Fortaleza, meio “descompromissado” com as tensões do jogo. 

É ele o maior especialista da função de “goleiro linha”, tal qual ocorre na prática do futsal. Sai do gol, como um líbero (jogador da sobra), troca passes com os zagueiros e sugere uma leitura tática, incluindo o goleiro: 1-4-2-4.

Num jogo contra o Ceará, no Castelão, quando defendia o Oeste, Felipe Alves interveio num lance de ataque alvinegro, e saiu “chapelando” quem encontrou pela frente.

Há quem se detenha numa crítica ao caráter exibido  e nos excessos, aqui e ali, de Felipes Alves. Mas, que seu estilo leve, tranquilo e moleque de jogar, nos permite uma viagem à nossa infância risonha e franca. Quando jogava-se por prazer. É uma verdade inarredável.

Grande Felipe Alves.


 



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