Criança que não gostava de circo não era "boa da cabeça". Eu adorava.
Sem explicações para isso, me fascinavam mais os pequenos circos, os mais pobres, que aportavam no Crato lá pelos idos de 1959 e 1960.
Talvez, porque fosse mais fácil nossas entradas por baixo das lonas laterais, sem pagar ingresso.
As grandes companhias - Nerino e Garcia - nos pareciam inacessíveis.
Os circos chegados no Crato ocupavam terreno em frente à estação da RFFSA. Pertinho de onde morávamos.
Seus integrantes tinham a aparência de ciganos e falavam outros idiomas.
Foi nesse tempo que mantive contato com o Circo Continental.
Certamente, por dificuldades financeiras, já chegou sem a lona de cobertura. Mesmo assim, teve que funcionar.
Além dos espetáculos normais, acabou acrescentando uma atração para engordar sua bilheteria: uma luta de vale-tudo, no fim de semana.
O baterista do conjunto musical do circo, um carioca, alto e forte, fez desafio a um lutador da cidade que tivesse a coragem de enfrentá-lo.
Apresentou-se João Índio (conhecido, muito tempo depois, como “João Peitudo”, que se dizia filho de Lampião), funcionário de uma vulcanizadora de pneus.
Na primeira luta, o baterista-lutador quase mata o representante cratense de "peia", o que motivou um pedido de revanche.
Foi a oportunidade para João Índio (ou “João Peitudo”, vá lá) se recuperar. Ocorre que, quando João estava vencendo a segunda luta, com nítida vantagem, o baterista-lutador meteu-lhe o dedo nos olhos.
Peitudo endoidou e, quando recuperou a visão, armou-se com o martelo do palhaço, que tinha uma espoleta da ponta, e correu atrás do seu oponente, já em carreira para o meio da rua.
Isso tudo com a "cabroeira'" atrás, à base de vaias e apupos.
Eu estava, claro, no meio dessa "manifestação" patética e divertida.
Com muito esforço para se controlar o chafurdo, os ânimos foram felizmente serenados.
O juiz da luta atendia pelo nome de "Cochilão". A arrecadação obtida com as disputas foi boa e o pequeno Circo Continental seguiu o seu itinerário por outras cidades, com dinheiro em caixa para adquirir uma nova cobertura.
Ficou como forte e carinhosa lembrança na minha memória.