O bandeirinha que sabia das coisas

Confira o texto desta sexta-feira

Legenda: Arte Bandeirinha
Foto: Reprodução

Confesso meu fascínio pelos pequenos estádios de futebol. Eles são únicos.  

De preferência, os que têm poucas arquibancadas. A separar o torcedor do jogo apenas o alambrado.

Gramado quase inexistente. O campo de jogo com barro e algumas manchas de capim de burro, graças à uma neblina durante o dilúvio.

Nos "estadiozinhos", todo mundo se conhece. A ponto de se perguntar ao porteiro: "Meu amigo Sebasto já chegou?”

Jogadores, treinadores e árbitros sofrem com as pressões e insultos da torcida, como se ela estivesse dentro de campo.

No pequeno estádio, o torcedor acha que a aquisição do ingresso lhe dá o direito de esculhambar todo mundo.

Nesse ambiente tensionado, os bandeirinhas são os que mais sofrem, pela aproximação do torcedor apoiado no alambrado.

Já  flagrei uma "recepção"  dada a um bandeirinha que chegava à borda do campo: "Já chegou, né, ladrão sem vergonha? Trabalha direito, se não vai levar umas lapadas". 

Mas, um certo dia, o bandeira levou a melhor com o torcedor, por conhecê-lo bem.

"Tu sabe o que tua mulher tá fazendo numa hora dessa ?", vociferou o torcedor.

Ao identificar o autor do xingamento, o bandeirinha devolveu: "A minha tá trabalhando em casa. A sua está lhe botando chifre com fulano de tal".

Coube ao xingador se afastar, esgueirando-se de fininho, morto de vergonha.

O bandeirinha sabia das "coisas".