O ato de torcer como enfermidade

O futebol, cada vez mais, faz parte da vida das pessoas em todo mundo. Os clubes pertencem à alma do povo.

Acho que não estou exagerando, mas o futebol nos ensina mais sobre a condição humana do que muitos livros. O ludopédio como metáfora da vida. Embora alguns intelectuais digam que “refletir” sobre ele é uma tremenda perda de tempo.

Mas, o que pretendo neste espaço é refletir, mesmo, sobre o ato de torcer que envolve dirigentes, torcedores e até cronistas no desempenho dos seus ofícios.

Matem essa no peito: torcer não é um ato totalmente irracional, injustificável. Faz parte dos sentimentos que o jogo desperta.

É possível torcer sem ser fanático. Seria isso verdade, se o ato de torcer por um time não representasse uma suspensão temporária do juízo de quem o faz.

Mais curioso fiquei sobre o assunto, ao fisgar uma definição do jovem presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, perguntado sobre qual o principal problema do futebol no Brasil. Sem pestanejar, respondeu: “É a forma como as pessoas se relacionam com os seus clubes”.

Quis dizer que as carências e problemas pessoais, de toda sorte, podem encontrar soluções, ainda que efêmeras, num estádio ou diante da televisão.

Deixando a profundidade de lado, entendi, sem deixar de queimar neurônios, o seguinte: o futebol, com o seu poder de atração, converte paixão em enfermidade.

E aí, que a exigência insana por vitórias está relacionada a uma enfermidade, extraindo do doente os piores traços de sua personalidade.

Seria, como define o jornalista e escritor espanhol Martí Perarnau, a “bulimia de vitórias”, uma compulsão. Isto é, meu time só me representa quando ganha, e não tem “autorização” para perder.

Para não esticar a baladeira, em termos de comportamento, reconhece-se a selvageria provocada pelo inferno dos resultados nessa máquina de moer gente que é o futebol.

Vivendo e aprendendo.



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