A Maria Fumaça, como era conhecida a locomotiva a vapor, que “queimava lenha e cuspia brasa”, puxando composições de cargas e passageiros da extinta e saudosa RVC (Rede de Viação Cearense), sempre teve um enorme efeito sobre mim.
Meu pai, Francisco Martins, foi funcionário da estrada de ferro e responsável por colocar o trem na minha vida.
Foi num tempo em que as estradas rodoviárias praticamente não existiam e os trens da Maria Fumaça contribuíam para desenvolver o Brasil, tornando antigos lugarejos em grandes cidades nos dias de hoje.
Mesmo com a chegada da locomotiva a diesel, na década de 50, a Maria Fumaça continuou sendo imprescindível para a rede ferroviária, até os anos 1960, por dois motivos: não existia óleo no país, nem peças de reposição para essa nova máquina.
É incrível imaginar, hoje, que esses dois insumos precisavam ser importados.
Quero, inclusive, sugerir aos leitores de nossas crônica o livro A Estrada da Minha Vida, obra de autoria do Dr. José Weidson de Oliveira, filho do saudoso e lendário maquinista “Chico Velho”.
Infelizmente, os nossos governantes, agindo na contramão das políticas de transportes dos países desenvolvidos, resolveram, com frágeis alegações, extinguir o transporte ferroviário do país, negando-lhe investimentos e novas tecnologias.
Certamente, que por interesses inconfessáveis, que nunca virão à tona neste país de tenebrosas transações.
Para a nossa infelicidade, pois não.
Isso representou uma drástica redução dos trens e, ao mesmo tempo, uma morte lenta da Maria Fumaça e de um transporte bom e barato, que conduziu até presidentes da República.
Pelo que sei, no Nordeste, não se teve sequer o cuidado de preservar as grandes locomotivas (as 400, por exemplo), como acervo de museus em velhas estações ou depósitos.
Essas, para o choro de quem nelas trabalhou, viraram ferro velho, mantendo-se apenas algumas “cafuringas”, máquinas de menor porte.
Não fosse este ato de ignorância do Estado, ainda hoje, teríamos a Maria Fumaça, puxando composições, com seus garbosos maquinistas e foguistas, engolindo curvas e distâncias, subindo rampas, ao som do seu apito característico.
Vez por outra, de algum lugar, nos chega o cheiro de sua fumaça para nosso consolo.
Grandes gigantes de ferro, grandes e fortes recordações que nos encharcam de infância.