Desde criança, sinto a necessidade de viver enturmado.
Quando a meninada se dispersava, me sentia um Robinson Crusoé, desamparado em ilha deserta, sem um radinho de pilha.
Ainda hoje, sinto saudade do tempo em que meu entorno era mais habitado por pessoas amigas.
Necessidade de pôr uma ordem na vida, para vivê-la, sem abrir mão da humildade e da nossa pequenez.
Quando abri um bar, a minha pretensão foi mais de reunir os amigos do que ganhar dinheiro.
Como já disse em comentários anteriores, sempre tive preguiça de enriquecer.
A casa que construí, na praia do Icaraí, parecia, nos finais de semana, um estádio de futebol: sempre lotada de parentes e amigos.
Minha esposa, Araci, ainda hoje, reclama do duro que deu para atender ao público presente.
Não precisa dizer, até a torcida do Flamengo está sabendo, as pessoas estão esquisitas.
Antes da pandemia, já se falava na "era das individualidades": cada um por si, Deus por todos.
Quando vivíamos no Mundo físico real, as pessoas já se refugiavam no virtual.
Forçados ao virtual, durante a pandemia, desejamos ardentemente retornar ao físico real.
Ao que parece, esse "puxa-encolhe" produziu um grilo na cabeça das pessoas.
Desabitadas, preferem se relacionar com o Mundo através de telas eletrônicas.
Não concedem ao outro sequer o prazer de atender uma ligação telefônica.
No máximo, um toque pelo Uótizapi (tradução por minha conta).
Viver em uma bolha digital, como se a vida, ao vivo, cara a cara, não apaixonasse mais ninguém, não tivesse nada de delicioso.
Ainda bem que vivemos a maior parte de nossa vida enfrentando uma solidãozinha, aqui e alí, sem escoriações. Muito diferente das esquisitices de hoje.
Qual a graça de uma vida sem amizades, enturmação?
É bom lembrar, sempre, que, amizade é matéria de salvação.
Penso nisso e me acalmo.