Se acalme. Não é conversa de assombração.
Vivemos tentando engabelar a morte. Procuramos negociar com "a mais indesejada das gentes", permanentemente.
Mesmo sabendo que o desfecho não será o desejado, o objetivo é permanecer um "tantinho" a mais entre os viventes.
Tal qual um velho sacerdote, já com a passagem só de ida, aconselhado por um arcebispo: "Deus deseja a sua companhia".
Arquejante, o padre respondeu: "Mas, aqui, na terra, tá tão "bonzim".
Quantas vezes delirei: "Quando a morte chegar, não vai me reconhecer. Vai que eu escapo".
Já falei em crônicas passadas que não preciso de intermediário. Com a morte, já me acertei.
Como Gontardo Callegaris, filósofo: "Só espero estar à altura deste momento”.
Vejam o que ouvi sobre a morte recente de um cronista que faleceu, subitamente, vítima de enfarto: "Uma boa morte. Morreu dormindo".
E tem "morte boa" à disposição no último lance de nossa vida?
Por uns escritos que li, soube que Ariano Suassuna falava da morte como a Moça Caetana, de tocaia, pronta para dar o bote e levá-lo.
As tragédias de sua família, o assassinato do pai, o levaram a pensar na Caetana todas as horas do dia, lendo os sinais de sua chegada.
Viveu até quase 90 anos, negociando com a Caetana.
De lampejos da morte, basta.
Não sei porque escrevo sobre assunto pouco palatável. Só sei que escrevo.
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