Tudo tem seu momento certo. Adoro velocidade. Prova disso é que, mesmo antes da "Era Fittipaldi", eu já acompanhava na Fórmula 1 as proezas de Jim Clark, o escocês voador. O notável feito de Jim em 1963, quando campeão do mundo, e em 1965, quando novamente campeão do mundo e vitorioso nas "500 Milhas de Indianápolis". Gosto tanto de velocidade que aprendi a pilotar avião, prazer que tenho já há 22 anos. Fiquei impressionado quando fui narrar os "100 metros rasos" nas provas dos sete GPs de Atletismo Caixa Unifor. Na disputa desse tipo, o homem é uma bala. Se você piscar o olho, pode perder a chegada do vencedor. Mas no futebol a velocidade exagerada me incomoda. E muito. Não gosto. A correria desenfreada de um time o faz mecânico. Pode ser agudo, eficiente, mas rouba o brilho da jogada trabalhada, pensada, como num jogo de xadrez. Um time de qualidade não precisa ir aos níveis mais elevados da exaustão imposta pela velocidade. Faz a bola girar. Põe o adversário na roda como fazia o Barcelona do técnico Guardiola. Matava o ritmo do time contrário. E, com arte e beleza, ganhava o jogo. Hoje técnicos exigem intensidade, velocidade, o tempo todo, todo tempo. Isso compromete a plasticidade.
Esclarecimento
O comentário acima não quer dizer que eu não gosto de jogador veloz. Gosto, sim, e é preciso que os times disponham de atletas com essa característica. É possível ganhar jogo por esse caminho. Osvaldo, do Fortaleza, é muito veloz. Sou admirador do trabalho dele. Tipo de atleta que todo time quer.
Show
O ponta-direita Julinho (Júlio Botelho) foi notável jogador, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1954 na Suíça. Uma de suas qualidades: a velocidade. Ele era bem alto e driblador. Depois da Copa a Fiorentina o contratou. Ele se tornou um dos maiores ídolos do clube italiano. Aplicava a velocidade no momento ideal. Aí tudo bem.
Olimpíada
Na minha juventude, quando jogava futebol na pracinha da Gentilândia, ficava espantado com a velocidade do colega Marcos Rocha Lima Xenofonte. Ninguém o acompanhava. Era uma bala. Recebeu o apelido de trem. Faltou um especialista para encaminhar o Marcos para o atletismo. Teria sido ouro nos 100 metros rasos em qualquer Olimpíada.
Na década de 1970, o Fortaleza apostou em dois velocistas da equipe de atletismo do Vasco da Gama: os irmãos Delmo e Rui que tinham sido bronze na prova 4x400m da Copa do Mundo de Atletismo na Alemanha em 1977.
Os dois eram uma bala, mas quase nenhuma intimidade com a bola. Corriam tanto que passavam da bola e do campo. Não deu certo. Lamentável é que ambos morreram jovens demais: Rui morreu no ano 2000, aos 51 anos de idade. Delmo morreu em 2010, aos 56 anos de idade.