Torcedores que marcaram época por pura paixão

As arquibancadas dos estádios estarão vazias ainda por muitos e muitos meses. Talvez mesmo só em 2021 seja possível se pensar no retorno da torcida às praças esportivas. Certamente apenas quando a vacina contra o coronavírus estiver em pleno uso. Antes disso impossível se imaginar casa cheia.  De repente me veio à mente a lembrança de torcedores que marcaram suas presenças nos estádios de futebol. Onde anda a Francisca Alvinegra? Ela era morena, tinha estatura média, magra. Usava vestido nas cores do Ceará. Conduzia sempre uma bandeira média. Entrava em campo e, com uma coreografia improvisada, fazia saudações especiais à torcida. A galera adorava. Os torcedores que frequentavam os estádios nas décadas de 1970 e 1980 devem lembrar dela. Sumiu. Nenhuma despedida. Nenhuma explicação. Ausentou-se dos estádios. Nunca mais tive notícias dela. Se casou. Se foi mãe. Se desistiu por algum aborrecimento. Ela era muito alegre, simpática. Alguns a chamavam de Francisca Preto e Branco. Há pessoas assim que saem do cenário sem sequer um adeus. No futebol cearense vários torcedores marcaram época. Até já escrevi sobre isso. Agora, em vista das cadeiras que ficarão vazias, voltei ao assunto. 

Totens 

Estão chamando de totens as figuras colocadas nos estádios para dar a impressão de que há torcedores presentes. Terá direito a um totem o torcedor que pagar por isso. A ideia, dentro da situação ora vivida, é para ser bem-vinda. Se bem que totem, ao pé da letra, não tem nada a ver com o que estão fazendo. 

Frase  

Em 1970, muitas vezes recebi na Rádio Dragão do Mar o Zé Limeira, líder da torcida coral. Promovendo o Ferrão ele repetia uma frase que até hoje não consegui entender: “Do lado que eu aliso é um ralo; do outro, esporão de galo”.  Ferrão foi brilhantemente campeão cearense em 1970, coroando belo trabalho dos dirigentes Ruy do Ceará e José Rego Filho. 

Torcedores do Leão 

Não lembro de uma torcedora do Fortaleza, dessas de comandar como fazia a Francisca Preto e Branco. A Toinha, hoje funcionária do clube, era muito querida da torcida, mas quem movimentava no estádio era Gumercindo Gondim com sua Charanga. Já o Jackson de Carvalho movimentava nas emissoras de rádio.   

Pílulas 

Bonecos vão substituir os torcedores. Inverteu-se o papel: agora será o futebol de verdade imitando o videogame. Hoje é a vida imitando a arte, no lugar da arte imitar a vida. Novos tempos. Sons falsos tão verdadeiros que os jogadores pensam ser de verdade. 

A verdade e a mentira estarão tão próximas nos estádios que, num primeiro momento, será difícil distinguir o que é e o que não é ficção. Uma produtora de efeitos especiais deixará lotado um estádio cheio de cadeiras vazias. Algo hollywoodiano.  



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