Presidente por amor ao clube

Leia a coluna de Tom Barros

Legenda: Morre Abdias Veras, ex-presidente do Fortaleza.
Foto: Divulgação/Fortaleza EC

Saudade muita. A morte do doutor Abdias Veras Filho levou-me a reviver momentos inesquecíveis de sua atuação no Fortaleza. As novas gerações precisam saber a importância do engenheiro Abdias na vida do Leão. Precisam saber o quanto de sacrifício custava presidir um time de futebol. Nas décadas de 1950 e 1960, não havia as cotas da CBF e nem patrocínios da televisão. Havia apenas a limitada receita das bilheterias. Nada mais. O amor ao clube era o combustível que conduzia os dirigentes da época.

E assim, movido por esse amor, o doutor Abdias ocupou os cargos de tesoureiro, diretor de futebol, diretor executivo, presidente do conselho deliberativo, diretor de patrimônio, vice-presidente e presidente do Leão. Cargos ele exerceu com devotamento e respeito. Na história do Fortaleza, ele deixou a marca de seu caráter, como homem íntegro, honrado, voltado para os valores bons. O Fortaleza deve muito ao doutor Abdias. Além dos títulos de campeão, o legado de lealdade, compromisso e competência. Dono de privilegiada inteligência, o Doutor Abdias soube dar ao Fortaleza as mais corretas decisões. Sem ele, certamente, o Leão não seria hoje esta força crescente no futebol brasileiro. 

Habilidoso 

Segundo depoimento do jornalista Sílvio Carlos Vieira Lima, o doutor Abdias Veras Filho foi um dos mais habilidosos e matreiros dirigentes que ele conheceu. Eu entrevistei várias vezes o doutor Abdias. Realmente ele era inteligentíssimo. Tinha um QI muito elevado. Via longe. Astuto, antecipava-se aos embates. E a força de seus sólidos argumentos sempre prevalecia. 

No livro 

Há uma passagem hilariante, contada pelo jornalista Silvio Carlos, na qual o doutor Abdias é citado. O jornalista Raymundo Costa era presidente do Fortaleza. Tinha como opositores Gumercindo Gondim (de uma loja de tintas), Carlos Rolim (de uma loja de tecidos) e Abdias Veras. Quando o seu Costa chegou ao PV, viu uma faixa de protesto estendida contra ele no meio da torcida. 

Resposta 

Um repórter pediu a opinião do seu Costa sobre aquela faixa. Aí o Raimundo Costa, também muito astuto, logo matou a charada. E explicou: “A tinta foi dada pelo Gumercindo. O pano foi dado pelo Carlos Rolim. Como os dois são analfabetos, a frase foi escrita pelo doutor Abdias, que é o inteligente do grupo”. Houve uma risada geral. E os quatro levaram tudo na brincadeira. 

Camisa imaculada 

O doutor Abdias Veras Filho tinha um ponto de vista com o qual eu concordava. E é meu pensamento até hoje. Ele defendia com veemência as camisas sem publicidade. Para ele, a camisa do clube deveria ser um manto intocável. O uniforme imaculado. Lamentavelmente, os tempos mudaram. 

Saudade 

O tempo passa rápido demais. Ficam as lembranças de um tempo de dificuldades que o futebol enfrentou. E que somente foi superado pela participação de dirigentes como o saudoso engenheiro Abdias Veras Filho. Um homem discreto, reservado, mas de um imenso coração. Coração no qual cultivou o amor imenso pelo Fortaleza, deixando-o como herança para a bela família que edificou.  



Assuntos Relacionados