Se o Ceará cair para a Série B, não restará pedra sobre pedra. Desabará o edifício dos argumentos frágeis. E virão à tona fatos que até agora não são do conhecimento do público. Aliás, lembrei a passagem bíblica do evangelista Lucas. Diz ele: “Não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que dissestes nas trevas será ouvido em plena luz e o que sussurrastes ao pé do ouvido, no interior dos quartos fechados, será proclamado do alto das casas”.
Os telhados de Porangabuçu falarão com a eloquência dos grandes oradores, denunciando o que de errado possa ter acontecido. Serão conhecidos os que pecaram por palavras e obras, atos e omissões. As causas do rebaixamento, se este for confirmado, certamente ultrapassarão as causas dos graves erros em campo. E incluirão decisões tomadas nos bastidores que contribuíram para o desarranjo coletivo. O possível rebaixamento já está deixando sem dormir os responsáveis pela desventura. As vitórias têm o condão de esconder os defeitos. As derrotas têm o poder de colocar na mídia o que as vitórias encobrem. Porangabuçu já estremece. Há dirigentes arrancando os cabelos.
A estreia do Ceará na Série A de 2022 foi exuberante. Uma apresentação primorosa, ganhando do Palmeiras (2 x 3) em pleno Allianz Parque. Passou a impressão de que faria uma notável campanha. Lego engano. No transcorrer do certame, o Palmeiras cresceu e ganhou o título de campeão por antecipação. O Ceará fez exatamente o percurso contrário.
O primeiro insucesso veio com a derrota no Campeonato Cearense. Derrota para o Iguatu no tempo normal e depois nos pênaltis. Foi o primeiro aviso. Depois a Copa do Nordeste. Também foi eliminado nos pênaltis pelo CRB. Foi mais um aviso. Acharam pouco? Foi eliminado da Copa Sul-Americana e da Copa do Brasil. Uma sequência que poderia ter servido de alerta para a Série A.
Hoje, vi os torcedores fazendo as contas. Tentavam descobrir uma saída para o Ceará. Ainda há chances de o Vozão permanecer na elite. Ganhar do Corinthians seria o primeiro passo. Sim, além disso, ver o Cuiabá derrotado pelo Palmeiras. E mais: ver o Atlético-GO derrotado pelo Fortaleza. No imprevisível mundo do futebol, tudo é possível.
Apesar de entender que as chances de rebaixamento superam as de permanência, ainda não dei o caso por encerrado. Enquanto o Ceará matematicamente tiver chance, não antecipo uma opinião definitiva. Prevejo a queda. Entendo que será muito difícil tal superação. Mas, no mundo mágico do futebol, até o Saci-Pererê pode fazer gol de bicicleta.
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