Os desastrosos efeitos das agressões no futebol

Leia a coluna de Tom Barros

Legenda: Pablo Fernández se manifesta após episódio de agressão a Pedro, do Flamengo.
Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Detesto a violência. Não consigo entender como um ser humano agride seu semelhante. Não falo apenas da agressão física. Falo de todos os tipos de agressão, a psicológica, a verbal. Nestes meus 58 anos de batente, já vi muita coisa desagradável assim. Eu tinha admiração pelo técnico Carlos Alberto Silva. Perdi a admiração no dia em que, em 1987, ele deu um tapa no jovem atacante Bebeto. Isso aconteceu após um jogo da Seleção pré-Olímpica do Brasil. É verdade que Silva, depois do episódio, continuou apoiando Bebeto, mas não mais consegui ter por ele a mesma admiração que eu tinha antes.

O técnico Felipão também andou exagerando nas suas reações. Em 1998, quando técnico do Palmeiras, deu um soco no repórter Gilvan Ribeiro, do jornal Diário Popular. Pronto. Para mim, Felipão passou a não valer nada, mesmo sendo vitorioso como treinador. O saudoso técnico Lula Pereira era muito amigo do Felipão. Certo dia, Lula, via telefone, estava conversando com Felipão pouco tempo depois da conquista do penta pela Seleção Brasileira. Lula fez questão que eu falasse com Felipão. Não falei. Há muito Felipão tinha perdido a minha admiração e respeito.  

Serenidade 

Sou de um tempo em que o treinador não precisava de grito ou socos para se impor. O técnico Vicente Feola, campeão pela Seleção Brasileira em 1958 na Suécia, era a serenidade em pessoa. E assim conquistou o primeiro título mundial da Canarinho. Vicente Feola foi um exemplo para ser seguido por todas as gerações. 

Impulsos de bobinhos 

Eu admirava o trabalho de Abel Ferreira no Palmeiras. Tudo ia muito bem. Aí, de repente, o homem se revelou “estrela”. Assumiu postura insuportável. Num determinado momento, chutou um microfone de pista. Num outro momento, arrancou o celular da mão de um repórter. Pronto. Passei a ter ojeriza pelo comportamento dele. Impulsos inaceitáveis. 

Estrela apagou 

O técnico Urubatão Nunes conhecia muito futebol. Tinha sido jogador do Santos na década de 1960. Atuou muitas vezes ao lado de Pelé. Veio treinar o Fortaleza. Certa feita, num treino do tricolor no anexo do Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, vi uma atitude inaceitável dele. Fiquei horrorizado com os gritos que ele deu no lateral-esquerdo Grilo. Para mim, a estrela dele apagou.  

Soco 

O ex-preparador físico do Flamengo, o argentino Pablo Fernández, extrapolou. Deu um soco no atacante Pedro. Um absurdo. Pablo foi demitido. Pior foi a postura do técnico do Flamengo Jorge Sampaoli. No lugar de condenar com veemência a atitude do seu compatriota, divulgou uma nota branda na qual se dizia preocupado com a situação. Sampaoli era para ter sido demitido também. 

Azedou 

Quer queiram, quer não, a atitude de Pablo azedou o ambiente interno do Flamengo. Contaminou de tal forma que a comissão técnica passou a ser olhada com restrições pelos jogadores. Não se iludam: a eliminação do Flamengo pelo Olímpia do Paraguai na Libertadores ainda tem tudo a ver com o ranço que ficou da agressão de Pablo. 



Assuntos Relacionados