O limite entre a arte e a provocação no futebol

Leia a coluna de Tom Barros

Legenda: Leia a coluna de Tom Barros.
Foto: Raul Baretta/ Santos FC

Ainda repercute o lance em que  Soteldo, jogador do Santos, subiu na bola e com os dois pés sobre ela, de pé, passou a contemplar os adversários, ou seja, os jogadores do Vasco. Sebástian, atacante vascaíno, entendeu como provocação. Reagiu. Daí uma confusão generalizada. Afinal, qual o limite entre a arte e o insulto nos campos de futebol? No meu modo de entender, o que define é a intenção do atleta. Dá para perceber claramente quando a ação é provocativa.

Mané Garrincha seguidas vezes driblava seus marcadores. Mas o fazia com arte, não com provocação. Desfilava seu talento e era aplaudido nos estádios do mundo. Era superioridade, não insulto. Assim também Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Maradona, dentre outros artistas da bola. Lembro de um atacante inglês, Stanley Matthews, que, com dribles em sequência, arrasou o grande lateral-esquerdo da Seleção Brasileira, Nilton Santos. Aconteceu em 1956, no Estádio Wembley, em Londres. O Brasil perdeu (4 x 2). Nilton, numa jornada infeliz, tomou um baile. Mas Stanley jamais quis provocar Nilton. Se Stanley, na frente de Nilton, tivesse subido na bola e ficado de pé sobre ela, aí a situação não mais seria de talento, mas de pura provocação. 

Interpretação 

O árbitro deve estar muito atento ao interpretar se por parte do atleta há ou não a intenção de desmoralizar o adversário. É tudo muito subjetivo. É o momento. O desenrolar do lance. Geralmente, o ato provocativo não faz parte de uma sequência. Mostra-se isolado. Fica bem caracterizada a intenção de humilhar o adversário. 

Dificuldade 

Compreendo que nem sempre é fácil reconhecer um ato provocativo, caso este conste de uma sequência de dribles. A grande maioria dos dribladores executa seus lances sem a intenção de humilhar. Portanto, é grande a sutileza entre o necessário e o supérfluo. Entre o que faz parte do objetivo do lance e o que faz parte de uma possível intenção de desmoralizar o adversário. 

Lambreta 

Muitos árbitros punem com advertência ou cartão amarelo o jogador que pratica o lance chamado lambreta. Discordo da punição. O lance lambreta é arte. Demonstra a habilidade de quem o pratica. Não vejo nisso um insulto ao adversário. Pelo contrário: entendo que o adversário deveria ter a humildade de aplaudir o talento do autor. 

Drible da Foca 

Lembram do atacante do Cruzeiro Kerlon Foquinha? Foi destaque do Cruzeiro em 2005. Jogou no Ajax da Holanda, na Inter de Milão e no Paraná. Encerrou a carreira aos 29 anos, por problemas de contusão. Foi o inventor do drible da foca, ou seja, tocando a bola de cabeça passava pelos adversários. E por isso foi muitas vezes punido porque os árbitros entendiam como provocação.  

Conclusão 

É preciso muita acuidade na interpretação de lances como o drible da foca, lambreta, dribles em sequência e olé. A meu juízo, embora delicada seja a diferença, dá para perceber quando tais lances são praticados por pura arte e quando, de forma excepcional, passam a ser praticados como atos de pura provocação.  

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