Muitas explicações já me foram dadas sobre os avanços dos modelos táticos no futebol. Os mais modernos se tornaram defensores intransigentes do goleiro-linha, ou seja, o que sabe sair jogando com os pés. É um goleiro que se transforma em zagueiro ou mesmo em meio-campista. São essas coisas que a modernidade trouxe, mas que os recalcitrantes, como eu, teimam em questionar. Faz parte da vida. Qualquer mudança sempre traz resistências. Quer dizer então que notáveis goleiros como Gordon Banks, Levi Yashin (famoso Aranha Negra), Michel Preud’homme, Gilmar, Castilho, Barbosa, Taffarel e tantos outros não teriam vez? Seriam dispensados dos seus clubes porque não teriam a habilidade com os pés, hoje tão exigida? Essas coisas me fazem pensar. Posso ser considerado retrógrado diante dos argumentos fortes que agora são levantados a favor do goleiro-linha. Tudo bem. Mas compreendo que, mais cedo o mais tarde, outros argumentos igualmente fortes virão na defesa dos que ainda pregam a favor da função primeira de todo goleiro, ou seja, a de pegar a bola com as mãos. Há, a meu juízo, espaço para os dois tipos. Um não exclui o outro.
De longe
Eu estava revendo o jogo Brasil 5 x 2 França, semifinal da Copa do Mundo de 1958. O goleiro francês, Abbes, foi apanhado de surpresa por uma folha-seca disparada de longe pelo fabuloso meia Didi, mestre da Canarinho naquela oportunidade. Bola no ângulo, após uma curva bem calculada. Bastou ficar um pouco adiantado, tomou o gol.
De longe II
Nem se pensava ainda em goleiro-linha, quando Victor, goleiro da então Tchecoslováquia, viu-se desesperado, em apuros, porque foi surpreendido por genial disparo de longa distância, desferido por Pelé. O lance ficou imortalizado. Não foi gol, mas o craque sabe como tirar proveito quando os goleiros jogam adiantados.
Argumento
O goleiro do Fortaleza, Felipe Alves, tem um argumento muito forte quando explica a função do goleiro-linha. Diz que, se tomar um gol por saída errada ou por estar adiantado, não poderá ser crucificado pelo gol que tomou, pois, por justiça, terão de ser computadas as saídas certas que ele elaborou e que resultaram em sucesso lá na frente. Faz sentido.
Pílulas
O argumento de Felipe Alves é forte e deve ser mesmo levado em consideração. Ele é excelente no que faz. E sabe defender muito bem seu ponto de vista. Admiro muito a forma como ele explica e convence. tem poder de persuasão.
Certo. Tudo bem. Mas o que quero expor, em defesa dos goleiros que não conseguem sair jogando com os pés, é que eles não podem ser olhados como ultrapassados. Cada tipo tem sua valia. Em nome da paz, amém.