O Ferroviário tem que ser assim

Leia a coluna desta terça-feira

Legenda: Ferroviário conquistou vaga na final da Série D após vencer o Caxias.
Foto: Lenilson Santos/Ferroviário

Que graça teria se o Ferroviário fosse um time comum, que ganhasse assinalando gols logo no primeiro tempo? Seria ótimo, menos sofrido, mas seria igual a muitos outros. A graça do Ferroviário, por mais paradoxal que pareça, é saber transformar o fácil no difícil para somente depois arrancar a vitória. Tem sentido isso? Claro que não. Além de ser uma situação sofrida, deixa tudo na incerteza até chegar ao apito final do árbitro. Mas o Ferroviário resolveu ser assim. Testa as coronárias dos seus torcedores. Ameaça mandar alguns para a UTI. Outros ficam à beira de um infarto.

Aí, no final, com gol geralmente do atacante Ciel, todos ficam felizes para sempre. Na vitória sobre o Caxias não foi diferente. Passou por sustos. Levou duas bolas na trave. Em momentos, foi dominado. Em momentos, dominou. Agora chegou o momento da grande final. Enfrentará a Ferroviária de Araraquara, tradicional clube do interior paulista. Melhor será uma mudança de postura, ou seja, ganhar sem sofrimento, com a construção de uma vantagem segura. É assim que a torcida quer. Mas, se não for possível pelos caminhos da tranquilidade, que as vitórias venham no último minuto do jogo. E, de preferência, com gols de Ciel.   

Artilheiro  

Estou impressionado com a retomada do atacante Ciel, jogador pelo qual sempre tive grande admiração e respeito. Torci muito pelo sucesso dele, máxime quando em 2008 ele teve a grande chance de atuar pelo Fluminense do Rio de Janeiro. Ciel estava jogando muito no Ceará, quando o time carioca o contratou.  

 O vício  

 Vítima do alcoolismo, Ciel enfrentou sérios problemas na vida. E perdeu grandes oportunidades. Ele queria sair do alcoolismo, mas não conseguia. Não acreditava que aquilo era uma doença. Não se submeteu ao tratamento adequado. Assim, não conseguiu afirmação no Fluminense. Acabou dispensado. Foi triste.  

 Perda  

 Ciel era de uma família humilde. Morava no interior de Pernambuco, na roça, com a família. Sofreu muito com a morte do pai, que foi assassinado. Com isso, a situação financeira apertou ainda mais. Aos 15 anos, foi aprovado num teste de futebol no time do Porto. Aos 17 anos estava no Santa Cruz. Depois, atuou pelo Salgueiro, Juazeiro e finalmente no Ceará. Parecia que tudo ia dar certo.  

Oportunidade  

Ciel teve duas oportunidades de atuar no futebol árabe. Como lá a lei é dura, ele se viu obrigado a parar de beber. Nessa época, numa de suas viagens a Fortaleza, vindo dos Emirados Árabes, onde atuava, ele trouxe para mim a maquete de uma catedral. Muito bonita. Estava bem. Era o sinal de que poderia superar o alcoolismo.   

Superação  

Na volta ao Ceará, foi ao fundo do poço. Só aí descobriu o valor da religião. Incentivado pela esposa Rutilene, buscou apoio numa Igreja Evangélica. Sua vida mudou. Ao deixar o vício, seu belo futebol voltou. E já há alguns anos ele vem brilhando em times do Nordeste. Aos 41 anos, Ciel está em paz. Após brilhar no Sampaio, brilha agora no Ferrão. Uma bela história de superação.



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