Maracanã: a insensibilidade o destruiu, mas não apagou

Lamento muito as novas gerações não terem tido a oportunidade de conhecer o verdadeiro Maracanã. O estádio que durante 60 anos (de 1950 a 2010) foi o templo sagrado do futebol mundial. Tinha a mística que nenhum outro estádio do mundo tinha. Daí o desejo que todos os jogadores tinham de um dia jogar no “Mário Filho”, nome oficial do estádio. No dia 8 de setembro de 2010, fecharam o Maracanã para o início das reformas. Nada de reformas. A rigor, destruição criminosa do mais valioso patrimônio do futebol brasileiro. Um crime de “lesa-pátria”, ante o olhar inerte dos defensores do patrimônio histórico nacional. Resolveram aplicar no estádio o modelo Fifa, hoje tão em voga. Derrubaram o anel superior. Extinguiram a geral. E assim, como diria Adoniran Barbosa, cada pedaço que caía doía no coração. Uma amputação sem anestesia, feita de forma cruel por homens que hoje deveriam estar atrás das grades. Bandidos que atentaram contra a memória e a tradição de um templo que, em qualquer outro lugar do mundo, seria intocável.  Só não conseguiram apagar as imagens preservadas nos filmes e vídeos dos grandes jogos. Mas isso não consola.

Ao vivo

Narrei vários jogos de times cearenses no Maracanã. Mas as imagens que mais me marcaram foram de partidas da Seleção Brasileira que ali presenciei e narrei. Jogos com mais de 150 mil pessoas no estádio. Em 1981, um show de Zico, que marcou os três gols da vitória (3 x 1) sobre a Bolívia, jogo válido pelas eliminatórias da Copa de 1982 na Espanha.

Fogueteira

Outro jogo com mais de 150 mil pessoas no estádio foi a vitória sobre o Chile (1 x 0), válido pelas eliminatórias para a Copa de 1990 na Itália. Jogo no qual a Roseney Mello, a fogueteira, atirou um sinalizador que quase atingiu o goleiro Rojas. E daí a farsa de Rojas que todos conhecem. Foi um momento enlouquecedor no Maracanã.

Ídolo

No Maracanã vi em ação notáveis ídolos do futebol nacional. Entretanto, um fato inesquecível eu vi, não com jogador de futebol, mas com um homem de rádio: narrador Jorge Cury. Cheguei na mesma hora que ele. Aí vi o carisma de Cury. Funcionários do estádio reverenciavam Cury como os súditos reverenciam os reis.

Pílulas

Os porteiros cumprimentavam Cury e iam abrindo respeitosamente as passagens nos setores, até Cury chegar à cabine. O respeito de todos para com Jorge Cury dizia bem da lenda que ele era. Não precisava apresentar a carteira. Sua carteira era a sua própria história.

Não vi respeito igual a qualquer outro narrador famoso do futebol brasileiro. Claro que pode ter havido reverência até maior a narradores como Edson Leite, Pedro Luís, Fiori Gigliotti, Doalcey Camargo, dentre outros, mas eu não presenciei. Histórias do Maracanã.



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