Não imaginei jamais ver em dificuldades extremas o setor esportivo das emissoras de rádio no Brasil. Quando ingressei na Rádio Uirapuru, em 1965, era o esporte que mais popularizava a emissora. A concorrência intensa entre as equipes produzia elevado padrão de qualidade. De certa época para cá, tudo mudou. Foram abertos espaços para arrendamento. Esse processo trouxe uma série de questionamentos. Em alguns casos, caiu o controle de qualidade. E, nas emissoras menos ortodoxas, houve mesmo casos de irresponsabilidade. Hoje, a crise colocou todos no mesmo barco: arrendadores e arrendatários. É visível a interdependência. Sem o futebol, a queda da receita impôs uma nova realidade aos contratantes, administrável por alguns meses, jamais por um semestre inteiro. A posição assumida pela APCDEC, pedindo pressa no retorno do futebol, é perfeitamente compreensível. Ligada direta ao problema dos seus associados, a entidade tem acompanhado a agonia de muitos pais de família que não sabem mais de onde tirar o devido sustento. Se o futebol está em crise, o rádio esportivo está numa situação muito pior.
"Era de Ouro"
Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, o rádio esportivo viveu uma fase excepcional. Como praticamente não havia transmissões de futebol pela televisão, os narradores esportivos gozavam de muito prestígio. Verdadeiras celebridades. Deuses. Edson Leite, Pedro Luís, Fiori Gigliotti, Jorge Cury, Doalcey Camargo e outros nomes consagrados.
Coberturas
Antes da chegada das transmissões em massa pela televisão, as equipes esportivas do rádio viajavam pelo Brasil, com narradores, comentaristas e repórteres. Assim conheci o meu País, de ponta a ponta. Hoje a televisão tomou conta de tudo, mas o rádio se recria. E, nesse recriar, sobrevive. E se projeta. E se mantém.
"Tubão"
Infeliz o dia em que alguém optou por fazer o que se convencionou chamar de "tubão". Nos primeiros tempos, "tubão" era uma prática condenável, inaceitável porque entendida como um embuste. O locutor fingia estar no lugar do jogo. Na verdade, estava na frente de um aparelho de televisão. A moda pegou. Economia de passagens e hospedagens.
Pílulas
O "Tubão" ganhou um novo conceito. Deixou de ser pecado mortal. As transmissões então feitas assim ganharam espaços na Internet. E ninguém engana mais ninguém, dizendo que está num lugar, sem estar. Os pecados foram perdoados.
Hoje, recordando a "Era de Ouro" do rádio esportivo, não posso compará-la com o tempo presente. Foram momentos inesquecíveis, de viagens constantes. Hoje, só raramente uma equipe viaja. E, quando o faz, jamais completa. Passou.