Difícil sentimento num estádio vazio

O hino do Fluminense, composto por Lamartine Babo em 1949, certamente teria sido cantado pelo Maracanã superlotado, após o título da Taça Rio, conquistado anteontem à noite diante do Flamengo. "Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão. Fascina pela sua disciplina, o Fluminense me domina. Eu tenho amor ao tricolor". A volta olímpica. Um título diante de um Maracanã vazio. O Gigante, de 200 mil torcedores da final da Copa do mundo de 1950, agora reduzido a lugares desocupados. Vi a comemoração dos jogadores. Fizeram a parte deles. Vibraram, cantaram. Nem o mais criativo roteirista de cinema chegou a imaginar algo semelhante. Parabéns ao Fluminense pelo poder de superação. Por mais que queiram, os efeitos especiais não terão maior valia que um estádio superlotado. Até quando, meu Deus, perdurará a proibição de público nas praças esportivas? Esses gigantes de concreto, nos mais variados modelos arquitetônicos, passaram a ter teoricamente capacidade zero. Arquibancada, no momento, virou ornato inútil. Acusa apenas o número de torcedores ausentes. É a matemática do vazio (se é que possa existir isso).

Crítico de arbitragem

O saudoso crítico de arbitragem, José Tosta, trabalhava na Rádio Dragão do Mar. Numa transmissão no PV, perguntado sobre como estava o trabalho do árbitro, ele respondeu que estava agradando a gregos e troianos. Outra vez chamado a opinar, repetiu que o trabalho estava agradando a gregos e troianos.

Público presente

Na mesma transmissão da Rádio Dragão do Mar, o repórter informou o público presente: 3.550 torcedores pagantes e 350 não pagantes. O comentarista Paulino Rocha, olhando para o Tosta, perguntou: "Nesse público já estão incluídos os gregos e os troianos?" O Tosta riu e deu uma banana na direção do Paulino.

"Canto coral"

Pela situação presente, nem gregos nem troianos, nem brasileiros, nem gente de qualquer estado. Agora é o público da poltrona como diria o humorista Renato Aragão. Para quem, como eu, desde o fim do ano de 1956 acompanhou futebol com "canto coral" da torcida, fica faltando algo nos estádios-cemitérios.

Tenho a boa vontade de aceitar as coisas como as coisas são. Quando não está ao alcance o que parece adequado para efetuar as devidas mudanças, o jeito é, enfim, enquadrar-se no que está posto. E assim vai o futebol.

Demorei a aceitar o tubão. Achava heresia. Os tempos cuidaram de dar legitimidade ao tubão, desde que o locutor dissesse que estava fazendo tubão, ou seja, não mentisse, dizendo que estava no lugar do jogo, sem estar. São os novos tempos, amigos.



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