Copa das zebras e discriminações

Leia a coluna deste sábado (17)

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Foto: Divulgação/Seleção de Marrocos

Amanhã, no Qatar, fim de festa: Argentina e França decidem a Copa do Mundo. Aliás, a palavra festa cabe para alguns. Para o Brasil foi mais uma frustração. Lamentei. Esta Copa do Mundo foi surpreendente em alguns pontos. Zebras pintaram por lá: Arábia Saudita 1 x 0 Argentina, Tunísia 1 x 0 França, Japão 2 x 1 Alemanha, Japão 2 x 1 Espanha, Marrocos 2 x 0 Bélgica, Camarões 1 x 0 Brasil, Coreia do Sul 2 x 1 Portugal. Foram placares inesperados, indicadores de uma nova ordem que vai se estabelecendo no futebol.

Pela primeira vez um país africano alcançou a semifinal, o Marrocos. E fez bonito. Não gostei nem um pouco do país que sediou a competição, o Qatar. Um país cheio de tabus e preconceitos. Um país riquíssimo em dinheiro, mas pobre no respeito aos direitos das mulheres. Um país detentor de fortunas, mas paupérrimo no respeito aos homossexuais. Um condenável radicalismo religioso, inadequado para receber gente de todos os continentes, com seus diferentes costumes e tradições. Quanto ao futebol, nenhuma novidade tática. Os esquemas todos bem conhecidos. Conclusão: uma Copa do Mundo realizada no lugar errado. Ainda bem que já termina amanhã. 

Cenário 

Copa do Mundo de futebol, que é também uma espécie de confraternização entre as nações, tem de ser realizada num país onde a liberdade e o respeito predominem, onde não haja preconceitos, onde homens e mulheres tenham os mesmos direitos, onde a discriminação seja punida com rigor, onde todos possam expressar seus sentimentos. Tudo o que não houve no Qatar. 

Quatro Copas 

Graças a Deus, tive a felicidade de cobrir quatro Copas do Mundo lá fora, todas em países onde havia liberdade, respeito humano, compreensão, aceitação das diferenças. Foi assim na Itália (1990), Estados Unidos (1994), França (1998) e Alemanha (2006). Aliás, há 28 anos, em 1994, vi em São Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos, o maior exemplo de respeito aos homossexuais. 

Análise 

Não gostei de alguns setores radicais da crônica esportiva brasileira que só viram defeitos na Canarinho. Nós tivemos uma boa seleção, que poderia ter avançado mais. Dizem que não passaríamos da Argentina e da França. Como afirmar isso? O Marrocos, sem craques, deu um calor na França e quase empatou na semifinal.   

Igualdade 

Brasil, Argentina e França estão mais ou menos no mesmo patamar. Não há diferença técnica acentuada entre essas três seleções. A classificação pode acontecer por um detalhe ou outro. Assim também a desclassificação. Sempre que essas três seleções se enfrentarem haverá equilíbrio. A Canarinho teve seus pecados, mas não do jeito que os cronistas radicais dizem. 

Decisão 

Amanhã, não haverá favorito. Argentina e França se equivalem. Numa final, vale muito a força mental. Nem sempre vence o melhor. Notáveis seleções foram surpreendidas por times inferiores na grande final. Cito o Brasil de 1950, a Hungria de 1954 e a Holanda de 1974. Eram máquinas perfeitas, mas foram derrotadas na decisão das respectivas Copas do Mundo.



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