Chegou o papa do futebol
Leia a coluna de Tom Barros desta terça-feira (27)

Sem chaminé, sem fumaça branca, sem conclave. Chegou Carlo Michelangelo Ancelotti Cavaliere, o papa do futebol mundial. Tem a dura missão de alcançar o que, desde 2002 até hoje, nenhum outro treinador conseguiu, ou seja, ganhar um título mundial com a Seleção Brasileira.
O desafio é incomensurável. Mas, para quem vai faturar mais de R$ 5 milhões por mês, vale a pena. É um negócio excelente. Uma espécie de mega-sena no bolso do italiano a cada 30 dias. A CBF está nadando em dinheiro. Nem parece que o país está passando por apertos financeiros.
Agora é esperar o retorno desse alto investimento: os resultados em campo. Ancelotti terá a missão de fazer novamente vitorioso e superior um futebol que um dia fascinou o mundo, já pela qualidade diferenciada de seus componentes. Um futebol que reinou pelo talento, improvisação e criatividade.
Um futebol vindo dos campinhos de areia. Um futebol vindo da bola de meia. Um futebol vindo das traves marcadas por chinelas japonesas. Berço de gênios que assombraram o mundo. E que ganharam cinco Copas.
Inversão
Ancelotti vem ensinar a quem já ensinou o mundo. Foi daqui, dos torrões suburbanos, que nasceram para a artes futebolísticas os Leônidas da Silva, os Zizinho, os Domingos da Guia, os Jajá da Barra Mansa, os Dida, os Tim, os Patesko, os Canhoteiro. Não vieram dos tapetes, mas dos pisos irregulares.
Identidade
O Brasil abandonou a sua escola. O Brasil, no futebol, perdeu a sua identidade. Enveredou pelos rígidos esquemas. E assim foi enclausurando os meninos que viviam soltos nos campinhos de terra batida. Os europeus aprenderam. Nós desaprendemos. E agora trazemos um professor que já foi nosso aluno.
Modelo
Estou ansioso por ver Ancelotti em ação, no comando da seleção Canarinho. Redescobrirá o que já foi nosso ou trará o que é deles, os europeus, para nós? Transpôs o oceano para devolver o que aprendeu ou abrir um mundo novo em plena América do Sul? Só o tempo dirá.
Estranho
Após 2002, algo estranho vem ocorrendo: os brasileiros brilham na Europa, mas, quando na Canarinho, não jogam nada. A seleção do penta (2002) foi composta por jogadores que atuavam na Europa (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos). Eles ganharam a Copa, dando um baile nos europeus. Depois de 2002, nunca mais.
Hora da verdade
Agora, com um técnico europeu, chegou a hora de desvendar o mistério. Com Ancelotti, os brasileiros passarão a brilhar na Canarinho como brilham na Europa? Meu Deus, como estarão no alto Pelé e Garrincha, contemplando tanta novidade? Logo eles, que saíram dos campinhos de areia para os aplausos do mundo...