Aprendi com o saudoso comentarista Paulino Rocha: quando há uma conquista histórica, a comemoração encobre os defeitos do jogo. O CRB foi melhor. Mereceu dar o troco. No tempo normal, ganhou com méritos, já pelo oportunismo do atacante João Neto, autor dos gols da vitória. E poderia até ter sido campeão direto, por três gols de diferença, não fosse a providencial e notável defesa de João Ricardo, espalmando a conclusão de Mike, nos acréscimos (48’) da fase final.
Nos pênaltis, a virada de página do Fortaleza para se sagrar campeão. A luta, não contra o CRB, mas contra os seus medos e complexos nesse tipo de decisão. Os fantasmas de Pedro Augusto, diante da LDU, e de Tinga, diante do Ceará. Os horrores da eliminação nos pênaltis em São Januário. O Leão teve de buscar uma força mental superior para não tremer. E, por mais paradoxal que pareça, essa força veio nos pés de Anselmo Ramon, ídolo do CRB. Ao isolar a cobrança, o Leão recebeu a bênção de que poderia mudar. Mudou.
As lições passadas valeram. E o Fortaleza conseguiu o que muitos consideravam impossível: ganhar na série de cobranças de pênalti. Como disse o juiz federal e professor da Unifor, Agapito Machado: “O Fortaleza perdeu no que melhor sabe fazer, jogar; e venceu no que menos sabe fazer, bater pênaltis." Verdade pura. Exatamente aí surgiu então um novo Fortaleza, ou seja, o vitorioso também na contradição. Um tricampeão do Nordeste que contrariou até a natureza das coisas.
Seguindo, então, ao pé da letra, o que disse o saudoso Paulino Rocha, não é hora de discorrer sobre os defeitos de uma má apresentação. Isso fica para depois. À torcida tricolor cabe comemorar a conquista de um tricampeonato histórico, doído, difícil, onde até atentado à bomba o time sofreu. Um certame vivido e sofrido intensamente, dentro e fora de campo. Os títulos, na vida tricolor, fazem parte do seu próprio destino.