A lição das mulheres, crianças e PCDs no Castelão

Confira a coluna desta terça-feira (30)

Legenda: O Ceará jogou para um público de 37 mil pessoas no Castelão composto apenas por mulheres, crianças e PCDs, mostrando todo o amor pelo time alvinegro
Foto: KID JUNIOR

Domingo passado, quando do jogo Ceará 0 x 3 Novorizontino, aconteceu a maior lição de civilidade já registrada no Castelão nestes 49 anos de sua existência. Um público de 37 mil pessoas, composto apenas por mulheres, crianças e PCDs, mostrou como o verdadeiro torcedor deve se comportar nas praças esportivas. O que se viu foi uma postura educada, pacífica, ética, de respeito humano e dignidade. Se os homens sem educação, baderneiros e violentos tivessem um pouco de vergonha na cara, jamais voltariam aos estádios de futebol.

Eles, que costumam insultar, brigar, provocar confusão, dizer palavrões e promover quebra-quebra, são um cancro no esporte brasileiro. Mesmo num dia em que o Ceará foi profundamente infeliz, goleado pelo visitante, jamais aconteceu sequer um impropério. A torcida continuou participativa, alegre, festiva, incentivando seu clube de coração, até mesmo quando parecia irreversível a derrota. A experiência foi excelente. Os homens dirão, talvez, que foi um caso excepcional e que as mulheres também poderão passar a ter um comportamento agressivo diante de erros da arbitragem ou diante de torcidas rivais. Isso é uma suposição. O caso concreto recebeu unânime aprovação. 

 

História 

 

Aproveitando o tema, faço uma justa homenagem a duas senhoras torcedoras que, na década de 1950, quando os estádios eram um reduto só masculino, marcaram época: Dona Chaguinha, torcedora do Ceará, e dona Filó, torcedora do Ferroviário. Na época, não havia ainda uma torcedora do Fortaleza que frequentasse os estádios como essas duas senhoras frequentavam. 

 

Cadeiras Cativas 

 

As duas torcedoras recebiam o carinho da torcida masculina. Nas arquibancadas, lado da sombra, dois lugares eram reservados para elas. Quando elas chegavam ao estádio, os que estivessem sentados nos dois lugares a elas reservados, eram retirados, puxados pela curva das sombrinhas que as duas levavam. Os marmanjos eram retirados sob vaias.

 

Educação 

 

Quando comecei a frequentar o PV, no final do ano de 1956 (eu tinha nove anos de idade), predominava o comportamento educado das torcidas. Não havia sequer a separação entre os torcedores. Se houvesse algum desentendimento, nem era preciso chamar a força policial, pois a turma do “deixa disso” resolvia a situação. 

 

Torcida organizada 

 

“Morena” foi a primeira torcida organizada do futebol cearense, fundada na década de 1970 pelo senhor Walter Filgueiras, torcedor do Ceará. Um grupo sereno, tranquilo, de conduta exemplar. Bem diferente das torcidas organizadas de hoje. Os descendentes do senhor Walter devem ter fotos da época. Gostaria de publicá-las no TBT do Tom, às quintas-feiras, às 12:40 na TV Diário. 

 

Homenagens 

 

Gostaria muito também de receber fotos da dona Chaguinha e da dona Filó para publicar no TBT, fazendo a ambas uma justa homenagem. Dona Filó já é homenageada com nome de rua na frente da sede do Ferroviário na Barra do Ceará. Dona Chaguinha, mãe do saudoso repórter-fotográfico Zé Rosa, deve ter muitas fotos nos álbuns da família.



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