A crise do café e do futebol

Leia a Coluna desta sexta-feira (14)

Escrito por
Tom Barros tom.barros@svm.com.br
Legenda: Pelé foi o primeiro jogador tricampeão de uma Copa do Mundo

A Copa do Mundo de 1970 deixou marcas inesquecíveis, não apenas pela conquista do tricampeonato mundial pelo Brasil, mas também por fatos interessantes que a valorizaram mais ainda. Foi a primeira Copa transmitida ao vivo pela televisão em nosso país. Foi a Copa dos lances imortais de Pelé. 

Na época, um dos mais notáveis narradores do Brasil era Geraldo José de Almeida. Nas transmissões pela televisão, ele criou vários bordões como “Canhotinha de Ouro” para Gerson, “Furacão da Copa” para Jairzinho, “Patada Atômica” para Rivelino e “Craque Café” para Pelé. 

No mercado mundial, o Brasil sempre foi o maior produtor e exportador de café. Na Copa de 1982, na Espanha, o café entrou de vez para a história do futebol brasileiro. Burlando as regras da Fifa, que proibia patrocínio nas camisas, a CBF colocou o raminho de café, símbolo do IBC, no escudo da Canarinho. E passou. 

As autoridades da FIFA não perceberam o disfarce usado no escudo da camisa da Seleção Brasileira. Somente anos depois, após atenta análise, a CBF foi obrigada a retirar do escudo o raminho do Instituto Brasileiro do Café. 

 

Melhor da Copa 

 

Pelé, o “Craque Café” no dizer do narrador Geraldo José de Almeida, terminou a Copa eleito o melhor jogador da competição. O café brasileiro, de alta qualidade, garantia receita significativa com as exportações. Enfim, o futebol no auge e a cafeicultura melhor do mundo. 

 

Burla 

 

Na Copa de 1982, o Instituto Brasileiro do Café resolveu patrocinar a Seleção Brasileira. A FIFA proibia qualquer tipo de publicidade nas camisas das seleções. A CBF conseguiu burlar a proibição da FIFA. Disfarçou com um raminho de café no escudo da camisa amarelinha. Passou. Ninguém da FIFA percebeu. 

 

Proibição 

 

Na Copa de 1986 não houve jeito. As autoridades da FIFA, certamente despertadas por denúncias dos concorrentes, descobriram a artimanha da CBF. Então obrigaram a retirada do raminho de café que, na verdade, era o patrocínio do Instituto Brasileiro do Café. 

 

Fim de comédia 

 

O futebol brasileiro está em crise. Pelé morreu. Não tem sucessor. Os títulos sumiram. O último título mundial da Seleção Brasileira foi em 2002, no Japão, há 22 anos. O café, que era barato, agora é um produto caríssimo. Há algum tempo, fácil na mesa do pobre. Hoje, nem tanto. Um absurdo. 

 

Esperança 

 

Vivi no tempo em que o café brasileiro, além da referência internacional, era barato e bom. Vivi no tempo em que o futebol brasileiro, com o Rei Pelé, ganhou três Copas do Mundo. As coisas mudaram. O cenário é outro. Mas não perco a esperança de voltar ao cafezinho barato. De voltar ao Brasil campeão do mundo. 

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