Superar o machismo é uma tarefa cotidiana

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Esta semana, a Casa da Mulher Brasileira completou três anos de existência aqui no Ceará. Nesse período, foram mais de 95 mil mulheres atendidas. Hoje, quando olho para a Casa, penso como vivemos tanto tempo sem um equipamento como esse. Em um só espaço, todo Sistema de Justiça está reunido pronto para receber as mulheres – e seus filhos e filhas – que têm suas vidas ameaçadas pelo machismo que ronda nossos cotidianos. Ao mesmo tempo, há apoio psicossocial e capacitação profissional para elas, ou seja, o primeiro e o último passo para o rompimento desse ciclo de violência. 
 
Não me privo de dizer que muitas dessas mulheres tiveram suas vidas salvas pelo apoio e acolhimento encontrado na Casa. Acredito que a cada mandado cumprido, a cada medida protetiva expedida, a cada pedido de pensão deferido, estamos trabalhando para desmantelar o machismo ainda tão presente e tão violento da nossa sociedade. São mulheres trabalhando para salvar outras mulheres. É algo de pura potência e inspiração!
 
A pandemia nos trouxe uma série de notícias acerca do aumento da violência contra as mulheres. Em casa – trancadas com aqueles que deveriam ser seus companheiros, mas eram agressores – elas se viram com dificuldade de pedir ajuda. As notícias também apontam que a situação de estresse, de isolamento social potencializou esse comportamento masculino tóxico. 
 
Mas aqui me questiono, que sociedade é essa em que os homens, quando trancados em casa com as mulheres com quem eles decidiram partilhar a vida, tornam-se seus algozes?
 
Tornam-se agressores de seus filhos e suas filhas? Que sociedade é essa que os faz, quando submetidos à divisão de tarefas domésticas, explodirem e violentarem suas famílias? 
 
Compreendo que precisamos, cada dia mais, discutir e tratar essa chamada masculinidade tóxica, essa forma de nos socializarmos tratando de forma diferente e superior o gênero masculino. O machismo estrutural que vivemos e precisamos romper é também sobre isso: sobre as pequenas diferenças cotidianas que vão estabelecendo a imagem de uma mulher ideal e a liberdade inconsequente para o homem. E não se enganem, esse processo começa ainda na primeira infância. 
 
É nesse momento tão precioso do desenvolvimento humano que mães e, sobretudo, pais, precisam ensinar que cuidar da casa e cuidar uns dos outros é tarefa de todos. Não há gênero para lavar a louça ou brincar de boneca, assim como não há para gostar de carrinho, estudar matemática e ser fera em ciências. Precisamos entender que essas pequenas coisas se tornam grandes e, em seu máximo, chegam mesmo a matar mulheres.
 
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.