O Escort XR3 conversível era emoção em todos os sentidos

Esse era “o” carro que causava impacto no quarteirão do sucesso do meu tempo

Legenda: Escort XR3, conversível, emplacou no Brasil quando apareceu na novela Roque Santeiro (1985)
Foto: Revista 4 Rodas

Domingo passado, trouxe uma história do quarteirão do sucesso do meu tempo (final dos anos 80 e 90), que gerou muita interação, envios de fotos e panfletos de lugares da época por muitos leitores. Haja memória RAM!

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Hoje, trago uma história do Ed. Brooklin. As três torres, construídas na diagonal do meu prédio, foram tomando forma em 1985 (eu acho). Receberam os nomes dos bairros novaiorquinos, quase óbvio para quem estava fincando estruturas na Avenida Estados Unidos.

Era assombroso ver os edifícios Brooklin, Bronx e Queen tomando forma. Com a frente virada contrária ao quarteirão do sucesso, a parte que dava para a avenida

Um ponto positivo: o elevador social era panorâmico. Se, hoje, causa sucesso, naquele tempo, então, era o máximo!

O salão de festas do Brooklin era todo revertido de carpete marrom, janelinhas pequenas rodeavam o espaço e tinham sempre festas com a galera da minha idade.

Levávamos nossos discos com o nome escrito a caneta para não se perder e, tome festa! Como em qualquer festa de adolescente, era o canto que menos estávamos: um, pela própria natureza da idade e, dois, porque era quente demais!!!!

Agora, se tinha um lugar "massa" para ficar eram os degraus da escada da entrada do Brooklin. O prédio ainda não tinha muros. A vista era privilegiada para quem quisesse ver os desfiles de carros pela avenida, bem como interagir com as pessoas que desciam para a Beira-Mar. Paquerar era a nossa intenção, claro!

Legenda: Edifício Brooklin e sua localização estratégica para a paquera
Foto: Jeritza Gurgel

Incluo nessa, porque tinha amigas que moravam lá e, nas férias, sentávamo-nos nos degraus só para dinamizar o romance e suspirar.

Uma dessas amigas, alguns anos mais velha que eu, tinha uma paquera específica. Ela sabia tudo dele: horário de passagem, placa de carro, com quem ele estava acompanhado, enfim, tu-do!

Ele, por sua vez, quando descia a Estados Unidos e cruzava a Antonio Justa, começava a reduzir a velocidade. Passava pelas escadarias do Brooklin bem devagar no seu Escort XR3, conversível e roncava o motor.

Em seguida, olhava para a escadaria onde ficávamos, aumentava o som e balançava os cabelos lisos, esvoaçantes e desarrumados pelo vendo. Ele sabia fazer o negócio: era bonito, charmoso e tinha o carro do momento que era destinado, apenas, para uma pequena fatia do mercado consumidor.

A pobre da minha amiga só faltava bater palmas em pé para aquela performance. Dava pulinhos sentada e abria um sorriso mostrando todos os dentes. Uma fã legítima!

Validação garantida, ele seguia a avenida.

É claro que nunca rolou nada, além desses momentos diários. Ele, cada vez mais dono de si, da situação e do convencimento e, ela, vivendo esse amor platônico.

A gente cresceu, né? Rotinas mudaram e os objetivos, também!

Só sei que, outro dia, estava aguardando uma audiência quando sai, do elevador do Fórum, o bonitão, do meu tempo, do Escort. Eu não acreditava no que estava vendo!

Ele foi aproximando-se de onde estava e pude o ver, mais nitidamente, em outra fase da vida: quase sem cabelos, os fios mal pintados de acaju, calça jeans apertada, destacando o shape nada atual.

Dentro de mim fui lembrando dos loopings de emoção vividos pela minha amiga, no quarteirão do sucesso.

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Não resisti. Dei um jeitinho e fiz uma foto dele, clandestinamente. Lógico que mandei para a minha amiga, com a frase: “Que tal?”

Desconstrução da imagem do galã do passado e muitas gargalhadas que renderam assunto na turma por toda a semana.

De uma coisa é certa: o Escort XR3 conversível era emoção em todos os sentidos, mas quem o guiava ficou no passado e, de lá, não sai mesmo!

Sei que a vida pode não ser legal o tempo todo, mas se você não cuidar de si mesmo, da sua saúde, adotando hábitos saudáveis, não tem mais Escort XR3 conversível que carregue a sua fama.

Não é a aparência, mas a essência, agora, que causa emoção para aquelas mulheres que viveram o quarteirão do sucesso.

“Dominguemos, Amém!”

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.