Joriza Magalhães, nova desembargadora do Ceará, ressalta a conquista de espaço da mulher na Justiça

A nova desembargadora toma posse amanhã (18), mas antes recebeu a coluna para falar de justiça, maternidade, aprendizado e vida

Legenda: Joriza Magalhães foi eleita a nova desembargadora do TJ / Ce, pelo critério de merecimento. Na escolha por Joriza, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará esteve diante de um fato inédito: em 148 anos de história da Corte, os cinco primeiros nomes de lista para o cargo de desembargador eram de mulheres.
Foto: LC Moreira

Eu gosto de gente”. A afirmação é direta e clara. Mas, mesmo que Joriza Magalhães não tivesse dito, seria fácil chegar a essa conclusão. Ao lado dela, já se sente o entusiasmo no bate-papo.

Legenda: Dra. Joriza Magalhães
Foto: LC Moreira

Generosa com os sorrisos, atenciosa com quem está por perto, a juíza titular da 9ª Vara da Fazenda Pública volta muitas vezes no tema de como vê sua missão: servir aos seus semelhantes. “A justiça é um direito humano básico”, resume a maneira de ver seu ofício.

Atualmente, a Dra. Joriza Magalhães ocupa o cargo de juíza auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Em breve, sua vida profissional dará uma nova guinada, já que no dia 04 de fevereiro de 2022, ela foi a escolhida para ocupar uma vaga na corte cearense. A posse acontece amanhã (18).

Companhias valorosas

A nova desembargadora foi a escolhida de uma lista tríplice - toda ela feminina. Aliás, no certame, as mulheres ocuparam o topo da lista e, pela primeira vez, em 148 anos do TJCE, os cinco primeiros lugares foram conquistados por juízas aptas a concorrer pela vaga. 

Legenda: Dra. Joriza Magalhães
Foto: LC Moreira

“Fiquei especialmente feliz com o resultado. Não foi só a felicidade pessoal, dessa escolha em algo que busquei, mas fiquei vibrante ao ver essas colegas comigo nas primeiras posições. São todas magistradas muito valorosas”, explica.
Joriza Magalhães

Para a nova desembargadora, o Tribunal está de parabéns. “Demonstrou, com ações, que valoriza a mulher e o reconhece o mérito delas”, justifica, destacando que a régua do certame era objetiva, e que as primeiras colocações se baseiam, exclusivamente, na atuação das magistradas.

“Estava mais do que na hora de acontecer algo assim. Nossa instituição está caminhando bem”, comemora. É uma comprovação de que, no sistema de justiça, o descompasso entre homens e mulheres tem diminuído e a desigualdade ensaia sua saída de cena.

“Há poucos anos, se você observasse, a presidência do Tribunal, a vice, a direção do Fórum, os juízes auxiliares… A alta gestão do Tribunal era majoritariamente formada por homens. Temos evoluído positivamente”, avalia, ressaltando que hoje os postos mais altos da instituição são ocupados por mulheres.

Carreira

Esse olhar para o outro marca toda a vivência profissional de Joriza Magalhães. Vem até de antes. Filha de uma juíza, quando criança ela nem sonhava em seguir tal carreira, testemunha que era dos sacrifícios que a mãe precisava fazer para se dedicar ao ofício. Começou a cursar Direito e chegou a se sentir perdida. O entusiasmo veio para valer, e de forma definitiva, quando começou a sequência de disciplinas em que o pensamento abstrato dá lugar às reflexões sobre sua aplicação concreta.

Legenda: Joriza Magalhães
Foto: LC Moreira

“Me apaixonei em ver como os conhecimentos poderiam, efetivamente, contribuir para sociedade. Gosto muito da prática. Sou uma pessoa de realizar”.
Joriza Magalhães
Juíza auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE)

Foi naquele momento, também, que ela identificou na magistratura o lugar ideal para por em prática seu desejo de melhor servir aos outros.

Após a graduação cursou um mestrado e deu continuidade a uma rotina de estudos, almejando concursos na área da Justiça. Foi aprovada em dois. Advogou e integrou o Ministério Público, antes de ser convocada, aos 24 anos, para uma vaga de juíza em uma comarca no Interior do Estado.

“A magistratura é exatamente como sempre achei. Sempre me coloco a questão: como prestar o melhor serviço, como contribuir mais para a sociedade. Era como eu me via melhor contribuindo”, revela.

Veio o casamento com um colega de curso e, mais tarde, na carreira de magistrado e quatro filhos, três homens e uma mulher. Falecido há quatro anos, o marido foi companheiro em sua trajetória como juíza em comarcas do interior, antes de assumir um posto em Fortaleza.

“Meus três filhos mais velhos nasceram enquanto eu atuava no interior. Eles moravam comigo na comarca em que eu estava, estudavam lá. Meu marido, juiz em outras comarcas, nos encontrava nos fins de semana”, relembra a dinâmica que durou mais de uma década, quando a dedicação mútua minimizava as distâncias.

“Como em tudo, temos as vantagens e desvantagens”, diz. “Eu vivo muito meu trabalho. É com muito amor que o exerço. Para mim, nem a maternidade, nem a magistratura são pesos. É uma responsabilidade, mas uma responsabilidade feliz. Tive os filhos no momento certo, para mim. Já tinha como sustentá-los, tinha maturidade, um relacionamento estável. Aquele sacrifício de acordar de madrugada, de amamentar, de passar um tempo sem sair: nada disso foi um peso. Sinto a maternidade como uma realização. O fato de eu ter ficado com meus filhos onde eu estava, facilitou muito a minha vida”, avalia Joriza Magalhães.

O maior amor do mundo

As experiências de vida sempre contribuem umas para as outras, ensina a desembargadora.

“O passado interfere no presente. Todas as suas experiências, seja em qualquer área, interferem no seu ser. A sua forma de ver o mundo, de atuar”.

A maternidade transformou a juíza e a juíza contribuiu para o ser mãe. “Ser mãe é sentir o maior amor do mundo. É uma experiência de vida que ajuda você a trabalhar, por exemplo, nas questões de família de forma diferente. Você passar a ter outra visão, não vê só a letra fria da lei. Faz você ter mais sensibilidade com o outro, sobre todos os ângulos”, afirma.

O crescimento, como ser humano, passa por muitas dimensões pessoais. Joriza Magalhães diz que é mais do que seu papel como magistrada e como mãe. Valoriza um bem-viver que se traduz no autocuidado, no tempo que dedica às atividades físicas, aos cuidados estéticos, à alimentação saudável, aos amigos. “Precisamos estar bem, para que possamos trabalhar melhor, para viver melhor”, defende. 

O futuro

Legenda: Joriza Magalhães
Foto: LC Moreira

A experiência auxiliando, primeiro, a vice-presidência e, atualmente, a presidência do TJCE somou-se ao aprendizado como juíza, promotora e advogada. Joriza Magalhães nunca se pautou por promoções, mas, explica, também nunca foi do tipo que fica parada. Aprender é o verbo que conjuga na vida e, na profissão, o resultado foi contundente em sua escolha para integrar a corte.

Experiência e aprendizado são ambições de Fausto, personagem do livro homônimo do alemão Goethe. É a obra a qual Joriza Magalhães se dedica atualmente, no clube de leitura Sancho Pança, que mantém com colegas: magistradas e magistrados. A obra alerta para os riscos da vaidade humana. 

É com humildade e empatia que Joriza Magalhães fala de como se prepara para o futuro próximo, após a posse na sexta-feira. “Costumo dizer que, com 6 anos, aprendemos a coisa mais difícil da vida: ler e escrever. Depois disso, a gente é capaz de qualquer coisa. Na vida, muitas vezes sentimos medo dos desafios, mas temos que acreditar que somos capazes e nos esforçar”. “Estudar muito, se dedicar muito, observar os mais experientes, a forma como trabalham, pra me sentir com os pés firmes”, é seu plano de ação.

“Sempre acho que estou aprendendo. A gente está nesse mundo para evoluir, em todos os aspectos, como profissional e ser humano”, conta.

Qual o desejo para seus dias no novo ofício? A desembargadora Joriza Magalhães não pensa duas vezes para responder.

 

Legenda: Dra. Joriza Magalhães
Foto: LC Moreira
“A justiça é uma necessidade básica do ser humano. Quero continuar me esforçando para servir cada vez melhor o meu semelhante”.
Joriza Magalhães
A nova Desembargadora do TJ / Ce